É verdade! Eu chegava adolescente a Alagoinhas, justamente quando ela completava 100 anos de emancipação. Cheguei de trem, vindo de Serrinha. Fiquei impressionado com o grande movimento de trens na estação de São Francisco. Trens chegavam à cidade e trens saiam; trens passavam em direção a Juazeiro ou Senhor do Bonfim; trens passavam em direção a Aracaju ou Propriá; trens iam e vinham, subiam e desciam. Mercadorias eram embarcadas e desembarcadas; passageiros embarcavam e desembarcavam. Pessoas vinham a passeio, a negócios, outras em busca de trabalho. Alagoinhas oferecia trabalho: Trapiches de fumo, curtumes, ferrovia (oficinas da Leste Brasileiro aqui e em Aramari).
Pequenos comerciantes do sertão e de outros lugares vinham comprar frutas (laranja, jacas, coco), farinha e outros produtos para revenderem em suas regiões; traziam peles, couros, galinhas, ovos, produtos de palha, de sisal, frutas como pinha e umbu.
Pessoas ganhavam dinheiro vendendo arroz doce, café, laranja, amendoim, bolos e outras guloseimas nas estações; havia os carregadores de malas, devidamente cadastrados na prefeitura e trazendo pendurada ao peito uma plaquinha de metal com a identificação numérica. Não havia taxi. Só na Praça J. J. Seabra havia um único: o de Zé Popular.
Eu ficava encantado ao ver tanto movimento de operários na cidade: eram ferroviários indo ou vindo das oficinas da Leste; eram curtumeiros com suas marmitas nas mãos indo ao trabalho nos curtumes São Paulo, Santa Rita, Santa Inês, Bonfim e outros.
Movimento de funcionários na estação de São Francisco, no depósito das locomotivas, no lenheiro: agente, telegrafistas, conferentes, guardachaves, truqueiros, manobreiros, vigias, maquinistas, foguista, guardafreios, chefe de trens.
Na época, Alagoinhas tinha menos de 30 mil habitantes, mas o movimento de trabalhadores, operários, era proporcionalmente muito maior que o de hoje.
A ferrovia quase parou, os trens de passageiros e de carga acabaram. Empresas de ônibus surgiram. Ainda há grande movimento de trabalhadores, mas a maioria trabalha onde? Em Camaçari e em outras cidades da Região Metropolitana de Salvador, em Catu, Pojuca, Mataripe, Candeias.
Algumas indústrias, ultimamente, têm chegado a Alagoinhas, mas de maneira ainda muito tímida. Empregam ainda muito pouca gente; trazem de fora seus funcionários qualificados.
Com a passagem da BR 101, a cidade vem se desenvolvendo, mas em ritmo ainda muito lento. O comércio emprega pessoa, mas ainda é muito pouco.
A agricultura ainda é aquela familiar, de subsistência. Há o plantio de pinho e de eucalipto; emprega algumas pessoas, mas há muita discussão em torno disso. E a “terra da laranja” onde ficou? Só na fama. Diminuiu muito o seu plantio; aquela laranja de umbigo famosa na região, quase desapareceu.
A educação. Há muitos estabelecimentos de ensino em Alagoinhas; várias universidades que atraem alunos de outros municípios. Mas onde está o mercado de trabalho para os variados cursos que são oferecios?
Muitas questões a serem levantadas a respeito do futuro de Alagoinhas. Interessam a todos nós cidadãos com mandato político ou não. Esperar só pelos políticos não dá. A consciência política do cidadão alagoinhense ainda é pequena. Precisa melhorar. Os políticos não correspondem às expectativas da população. Seus interesses (dos políticos) estão muito aquém dos interesses do bem comum.
Mesmo assim, amamos essa terra e queremos para ela dias muito melhores. Chegaremos lá!
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