Samuel Celestino
Esperava-se, pela história de vida da presidente Dilma Rousseff, que sofreu prisão e tortura durante a ditadura militar, que a ela coubesse uma postura diferente da que se pautou seu antecessor, Lula, ao visitar Cuba, justo um dia após a morte de um preso político em greve de fome. Foi incapaz de fazer uma manifestação ou dizer palavra a respeito. Aconteceu com Dilma situação semelhante. Com o agravante de haver apelos para que ela abordasse a questão dos direitos humanos. Ela respondeu de forma chã, ao questionar com uma frase quase jocosa: “quem não tem telhado de vidro.”
Na semana passada, o tucano José Serra, que já foi exilado político, produziu um artigo – “Direitos Humanos: o mau e o bom exemplo” – e feriu o assunto sobre o silêncio da presidente na ilha. Aliás, o mutismo de Dilma ganhou muitos espaços na imprensa. Anotou Serra que, semelhante a Lula (até parece um estigma) “pouco antes da visita morrera um prisioneiro político cubano que fazia greve de fome.” Ressalta: “Infelizmente, e apesar das promessas de mudança, em matéria de direitos humanos, o atual governo manteve-se na linha do anterior, de aliança fraterna com ditaduras e ditadores.”
Há uma diferença: a presidente não simpatiza, ao que parece, com Hugo Chávez, da Venezuela, e não se interessou em receber no Brasil (ele estava a fazer uma visita a países da América Latina) o ditador do Irã Mahmoud Ahmadinejad. É claro que não poderia, como chefa do Estado brasileiro, cometer uma grosseria na sua visita a Havana. Poderia, porém, encontrar forma de, sinuosamente, tocar no assunto. Mesmo se não falasse sobre os presos políticos que morrem em greve de fome na ilha de Fidel e Raúl, a questão dos direitos humanos tem um caráter de largo espectro. Trata-se de uma defesa a um princípio que deve aureolar a humanidade, independente de fronteiras e países.
Aliás, José Serra em seu artigo, lembrou-se da posição assumida por Jimmy Carter ao anunciar, ainda em campanha para a presidência dos Estados Unidos, mudanças e direitos humanos, nos anos 70. Cumpriu a promessa, inclusive em relação ao Brasil ao tecer críticas sobre a ditadura que aqui estava entronizada, a mesma ditadura que aprisionou e torturou a esquerda brasileira que contra ela lutava. O PT tem diversos integrantes (ainda) que sofreram as consequências do regime de exceção, entre os quais, como já dito acima, Dilma Rousseff. O “ainda” que anotei na oração anterior mereceu os parênteses porque o PT mudou, desde que fundado no início dos anos 80, até chegar ao poder.
Não se trata de adotar a tese segundo a qual o poder deforma, porque não é assim. Quem se deformou foi o partido. O PT não é, definitivamente não é, o que já foi e está muito longe de outros tempos quando despertava simpatias que se assentavam nos princípios que nortearam a sua criação. Hoje, é um saco de gatos para todos os gostos. Seus valores se dissiparam no decorrer dos anos, principalmente ao assumir o comando da República e dos seus poderes. É, tão-somente, uma legenda igual às outras que estão presentes com representações políticas nessa torta república tropical. Posso dizer isso de forma clara, aberta, porque, seguramente,
nenhuma legenda se sentirá atingida. Pelo contrário, a maioria irá se envaidecer ao se afirmar que são iguais ao PT, sem nada que possam diferi-las.
Retorno ao artigo do tucano. Escreveu “Em setembro de 1973 eu morava no Chile, exilado, quando houve o golpe que levou o general Augusto Pinochet ao poder. Lá, fui preso, e em 1974 consegui deixar esse país na condição de exilado. Tornei-me, assim, um exilado “ao quadrado”. Vivi os duros momentos iniciais de duas ditaduras e fui alvo da repressão de ambas. Do Chile, fui para os Estados Unidos com minha família, onde assisti a queda do presidente Nixon e a disputa eleitoral de 1976.
Por isso, fiquei particularmente impressionado e mesmo emocionado quando, nos debates da campanha presidencial, tendo como oponente o então Presidente Gerald Ford, ouvi V. Ex.ª (referia-se a Carter, em discurso que pronunciou ao condecorá-lo com a Medalha do Ypiranga quando governou São Paulo) condenar o apoio dos Estados Unidos a ambas as ditaduras, a brasileira e a chilena. Apoio que começara na própria articulação dos golpes de Estado que as instauraram.
Lula, no primeiro governo, negou que integrasse o bloco da esquerda brasileira. Surpreendeu a muita gente, e me incluo entre esses. Ele poderia ter avisado antes, ainda na campanha que o levou, afinal, à presidência na sua quarta tentativa. A vida, com seus meandros, empurra as pessoas como uma pena ao vento para destinos inimagináveis. Lula chegou à presidência, foi um bom governante, no que pesem os erros cometidos, e fez de Dilma também presidente, sonho que sequer imaginou quando enfrentou a ditadura.
Como a vida é uma pena que o vento leva e a coloca aonde só os fados entendem, também cobra, em contrapartida, posições que se devem tomar para construir uma biografia. Dilma Rousseff já tem a dela. Mas poderia tê-la enriquecido com uma posição representando o Estado brasileiro, assim com Jimmy Carter fez durante a ditadura desses trópicos, nos anos 70, como lembrou José Serra.
Fonte: bahianoticias.com.br
Esperava-se, pela história de vida da presidente Dilma Rousseff, que sofreu prisão e tortura durante a ditadura militar, que a ela coubesse uma postura diferente da que se pautou seu antecessor, Lula, ao visitar Cuba, justo um dia após a morte de um preso político em greve de fome. Foi incapaz de fazer uma manifestação ou dizer palavra a respeito. Aconteceu com Dilma situação semelhante. Com o agravante de haver apelos para que ela abordasse a questão dos direitos humanos. Ela respondeu de forma chã, ao questionar com uma frase quase jocosa: “quem não tem telhado de vidro.”
Na semana passada, o tucano José Serra, que já foi exilado político, produziu um artigo – “Direitos Humanos: o mau e o bom exemplo” – e feriu o assunto sobre o silêncio da presidente na ilha. Aliás, o mutismo de Dilma ganhou muitos espaços na imprensa. Anotou Serra que, semelhante a Lula (até parece um estigma) “pouco antes da visita morrera um prisioneiro político cubano que fazia greve de fome.” Ressalta: “Infelizmente, e apesar das promessas de mudança, em matéria de direitos humanos, o atual governo manteve-se na linha do anterior, de aliança fraterna com ditaduras e ditadores.”
Há uma diferença: a presidente não simpatiza, ao que parece, com Hugo Chávez, da Venezuela, e não se interessou em receber no Brasil (ele estava a fazer uma visita a países da América Latina) o ditador do Irã Mahmoud Ahmadinejad. É claro que não poderia, como chefa do Estado brasileiro, cometer uma grosseria na sua visita a Havana. Poderia, porém, encontrar forma de, sinuosamente, tocar no assunto. Mesmo se não falasse sobre os presos políticos que morrem em greve de fome na ilha de Fidel e Raúl, a questão dos direitos humanos tem um caráter de largo espectro. Trata-se de uma defesa a um princípio que deve aureolar a humanidade, independente de fronteiras e países.
Aliás, José Serra em seu artigo, lembrou-se da posição assumida por Jimmy Carter ao anunciar, ainda em campanha para a presidência dos Estados Unidos, mudanças e direitos humanos, nos anos 70. Cumpriu a promessa, inclusive em relação ao Brasil ao tecer críticas sobre a ditadura que aqui estava entronizada, a mesma ditadura que aprisionou e torturou a esquerda brasileira que contra ela lutava. O PT tem diversos integrantes (ainda) que sofreram as consequências do regime de exceção, entre os quais, como já dito acima, Dilma Rousseff. O “ainda” que anotei na oração anterior mereceu os parênteses porque o PT mudou, desde que fundado no início dos anos 80, até chegar ao poder.
Não se trata de adotar a tese segundo a qual o poder deforma, porque não é assim. Quem se deformou foi o partido. O PT não é, definitivamente não é, o que já foi e está muito longe de outros tempos quando despertava simpatias que se assentavam nos princípios que nortearam a sua criação. Hoje, é um saco de gatos para todos os gostos. Seus valores se dissiparam no decorrer dos anos, principalmente ao assumir o comando da República e dos seus poderes. É, tão-somente, uma legenda igual às outras que estão presentes com representações políticas nessa torta república tropical. Posso dizer isso de forma clara, aberta, porque, seguramente,
nenhuma legenda se sentirá atingida. Pelo contrário, a maioria irá se envaidecer ao se afirmar que são iguais ao PT, sem nada que possam diferi-las.
Retorno ao artigo do tucano. Escreveu “Em setembro de 1973 eu morava no Chile, exilado, quando houve o golpe que levou o general Augusto Pinochet ao poder. Lá, fui preso, e em 1974 consegui deixar esse país na condição de exilado. Tornei-me, assim, um exilado “ao quadrado”. Vivi os duros momentos iniciais de duas ditaduras e fui alvo da repressão de ambas. Do Chile, fui para os Estados Unidos com minha família, onde assisti a queda do presidente Nixon e a disputa eleitoral de 1976.
Por isso, fiquei particularmente impressionado e mesmo emocionado quando, nos debates da campanha presidencial, tendo como oponente o então Presidente Gerald Ford, ouvi V. Ex.ª (referia-se a Carter, em discurso que pronunciou ao condecorá-lo com a Medalha do Ypiranga quando governou São Paulo) condenar o apoio dos Estados Unidos a ambas as ditaduras, a brasileira e a chilena. Apoio que começara na própria articulação dos golpes de Estado que as instauraram.
Lula, no primeiro governo, negou que integrasse o bloco da esquerda brasileira. Surpreendeu a muita gente, e me incluo entre esses. Ele poderia ter avisado antes, ainda na campanha que o levou, afinal, à presidência na sua quarta tentativa. A vida, com seus meandros, empurra as pessoas como uma pena ao vento para destinos inimagináveis. Lula chegou à presidência, foi um bom governante, no que pesem os erros cometidos, e fez de Dilma também presidente, sonho que sequer imaginou quando enfrentou a ditadura.
Como a vida é uma pena que o vento leva e a coloca aonde só os fados entendem, também cobra, em contrapartida, posições que se devem tomar para construir uma biografia. Dilma Rousseff já tem a dela. Mas poderia tê-la enriquecido com uma posição representando o Estado brasileiro, assim com Jimmy Carter fez durante a ditadura desses trópicos, nos anos 70, como lembrou José Serra.
Fonte: bahianoticias.com.br
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