Medo evidente – Desde que a revista Veja trouxe as acusações de Marcos Valério Fernandes de Souza, que garantiu à publicação ter sido Lula o chefe do Mensalão do PT, esquema criminoso de compra de parlamentares e desvio de dinheiro público, o ex-presidente se dedicou a obsequioso silêncio, contrariando o seu conhecido comportamento parlapatão. Lula, que fugiu da imprensa como o diabo foge da cruz, escalou alguns companheiros para disseminar entre os jornalistas algumas desculpas esfarrapadas.
Considerando a hipótese – remota, é verdade – de que as acusações de Marcos Valério não lhe cabem, Lula deveria se colocar à disposição do Ministério Público Federal. É o que destaca o líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno, para quem o ex-metalúrgico não deveria “atacar a oposição, intimidar a imprensa e constranger os ministros do Supremo Tribunal Federal”.
A apuração da denúncia é, na avaliação de Rubens Bueno, o caminho mais correto. “Se é inocente, Lula deveria, por iniciativa própria, pedir que o Ministério Público Federal o investigue. Não há motivo para que deixe essa dúvida, de ter chefiado o mensalão, pairar sobre sua biografia”, sugeriu o parlamentar paranaense, lembrando que vários políticos que foram alvo de denúncias, inclusive do PT, abriram mão de seus sigilos e se colocaram à disposição da Justiça. O próprio governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, fez isso após ser acusado de envolvimento no esquema do contraventor goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Para o líder do PPS, as reações de Lula diante das revelações do publicitário Marcos Valério, operado financeiro do Mensalão do PT, o fragilizam perante a opinião pública. “Para usar um bordão dele mesmo, quero dizer que o fato concreto é que membros da então cúpula PT estão sendo julgados e condenados pelo Supremo Tribunal Federal por comandarem um esquema de desvio de dinheiro público para compra do apoio de partidos e parlamentares. E isso aconteceu no governo de Lula. Portanto, ele foi o principal beneficiário. Se fizeram isso à sua revelia, nada melhor do que uma investigação aprofundada para lhe inocentar. Forçar presidentes de partidos aliados a assinar notas de ataque à oposição não irá afastar a suspeita”, analisou Bueno.
Segundo o deputado, adjetivos de palanque, desacompanhados de atitudes concretas, também não surtem efeito. “O que o PT fez diante do julgamento? Aceitou Delúbio Soares de volta e o chamou de ‘herói do povo brasileiro’, fez festa para José Dirceu e se põe agora contra a exibição ao vivo do julgamento do mensalão. De quebra, ainda ameaça retomar a discussão do controle da mídia. Até o momento, a defesa de Lula e do PT não corresponde aos fatos”, destacou o líder do PPS, citando ainda que o próprio procurador-geral da República, Roberto Gurgel, adiantou que outras investigações sobre o mensalão já estão em andamento.
Na noite de quinta-feira (27), duas semanas após a divulgação da matéria da revista Veja, Lula resolveu tocar no assunto. Ele acusou a oposição de fazer “jogo rasteiro” ao levar o tema de Mensalão do PT para a campanha. “Ele queria o quê? Que a oposição passasse a mão na cabeça dos mensaleiros, como ele fez num primeiro momento. No meio de um debate eleitoral, a sociedade tem o direito de saber o que está acontecendo no país. Campanha eleitoral não é para contar piada de salão”, finalizou Rubens Bueno.
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