A morte do arquiteto e FHC
por Vitor Hugo Soares
Não fosse a notícia da morte de Oscar Niemeyer na noite de quarta-feira (5/12),... o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso seguramente seria o personagem desta primeira semana de dezembro de 2012...
A começar pelo fato do líder tucano ter desembarcado no Planalto Central trazendo Aécio Neves debaixo das asas.
Foi lançar o senador e ex-governador de Minas Gerais como candidato do PSDB (e, quem sabe, das oposições, o sonho mais acalentado) à sucessão da presidente Dilma Rousseff, nas eleições de 2014.
FHC fez um dos discursos mais contundentes da sua larga trajetória de tribuno parlamentar e de respeitável palanqueiro. Em alguns momentos da fala para os prefeitos, lembrou o vigoroso combatente contra a ditadura que este jornalista viu em manifestação memorável no Largo do Terreiro de Jesus, em Salvador, ao lado de Ulysses, Tancredo Neves, Chico Pinto, entre outros, no tempo do “navegar é preciso”.
Em outros, FHC buscou ser o estadista de uma época de transição, ou o mestre da academia dando aulas de conduta ética , moral e cívica aos seus “alunos”.
Estabelecendo confrontos e traçando diferenças entre tucanos e petistas, definindo novas estratégias para futuros combates, lançando o anzol, principalmente em águas pernambucanas e cearenses, para pescar novas alianças e novos aliados.
Houve momentos em que, claramente, FHC chamou os adversários para brigar no meio da rua. Como os garotos que conheci no tempo de escola primária nas cidades à beira do Rio São Francisco onde morei na infância. Na rua, o garoto que queria briga traçava uma linha na areia com o pé. Cuspia em cima e dizia: “É a sua mãe”. O inimigo reagia na certa. E o pau cantava para valer.
Para FHC, PSDB é muito diferente do PT nas questões morais e éticas. Disse ele aos prefeitos reunidos em Brasília, que os petistas que estão sendo condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – incluindo o ex-ministro José Dirceu - alegam de forma errada que estavam cumprindo uma missão.
"Estão sendo condenados por crimes que cometeram. Ninguém está sendo condenado pelo passado. Na cabeça deles, podem estar cumprindo uma missão. Na nossa, não. Nós somos diferentes do PT", frisou o ex-presidente da República, sob aplausos dos tucanos cheios de si.
Mas o conceito não bastava, e FHC partiu para o confronto direto com os governos petistas de Lula e Dilma: "As agências estão carcomidas. Foram divididas entre os partidos. E a transposição do Rio São Francisco? Um descalabro. E os estaleiros? E as plataformas? Esse voluntarismo está ligado a uma política errada, de que o Estado faz o que quer. Aumentaram os impostos. Agora, 36% do PIB. E estão transformando os recursos em gastos correntes. O nosso PIB é um PIB pigmeu. O que falta é competência", discursou o ex-presidente.
FHC, segunda-feira, 3, fez no Planalto Central como os garotos do sertão antigamente, quando queriam medir forças. Dois dias depois, quando os petistas se armavam para reagir, sobreveio um motivo superior capaz de estabelecer trégua momentânea nos dois lados: a morte do grande arquiteto, Oscar Niemeyer.
Quando terminar o luto oficial de sete dias decretado pela presidente Dilma (ou antes), é quase certo que virá o troco dos petistas. A conferir....
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Vitor Hugo Soares é jornalista - E-mail: vitor_soares1@terra.com.br
Fonte: oglobo.globo.com
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