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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Duas fotos, dois protestos; um é democracia; o outro é gritaria fascistoide...

Ou: O regime democrático, a forma
e o conteúdo
 
A primeira retrata militantes cobrando, a seu modo, a saída do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. A segunda registra o protesto pacífico e silencioso feito por um grupo de evangélicos, nesta quarta, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. Eles pedem que os condenados João Paulo Cunha e José Genoino deixem a CCJ.

E aí?
 
Muitos são contrários à permanência de Feliciano numa comissão. Muitos são contrários à permanência de João Paulo e Genoino na outra comissão. Muitos gostam de Chicabon. Outros preferem o sorvete que é de uva… Na democracia, respeitados os parâmetros constitucionais, a forma é mais importante do que o conteúdo. Na democracia, as pessoas divergem sobre conteúdos e concordam na forma. A alternativa é o estado da natureza, todos contra todos. “Então, sendo educadinho, tudo pode?”, pergunta o petralha anarfa. Não! Estabeleci ali o limite na oração subordinada adverbial condicional reduzida de particípio: “respeitados os parâmetros”. Para entender o que escrevo, petralhas, é preciso ficar atento às sutilezas das reduzidas de particípio! Na língua, o conteúdo é tão importante quanto a forma.

Os evangélicos disseram o que pensam.
Os evangélicos não impediram os trabalhos.
Os evangélicos se opuseram à presença dos dois condenados, mas respeitaram o Congresso, que é maior do que Feliciano, que é maior do que João Paulo e Genoino, que é maior do que os evangélicos, que é maior do que os católicos, que é maior do que os gays, que é maior do que criminosos sacramentados pela Justiça, que é maior do que as corporações de ofício, que é maior dos que as corporações de gosto…

Dá para entender a diferença entre a democracia e a bagunça fascistoide? Dá para entender a diferença entre quem é contra o que o outro pensa ou representa e se manifesta de forma pacífica e quem tenta intimidar, calar, agredir, enxotar?

Dicas e perguntas

Fiquem atentos. Será que essa manifestação silenciosa vai parar na primeira página dos jornais? Se não for, é sinal de que, entre o protesto democrático e as falanges fascistoides, os jornais escolheram a segunda alternativa, e aí é hora de você escolher melhor os jornais. Será que essa manifestação silenciosa vai parar nas televisões? Se não for, é sinal de que, entre o protesto democrático e as falanges fascistoides, as televisões escolheram a segunda alternativa, e aí é o caso de escolher melhor a TV. Mais dia, menos dia, chegará a hora de discutir o “controle da mídia”. Os meios de comunicação podem estar, também eles, escolhendo a interlocução: truculência, gritaria, xingamento, demonização do outro… ou democracia.

“Não respondo a provocação”, afirmou Genoino, segundo leio na Veja.com, ao deixar rapidamente o plenário. Provocação? Qual provocação?

Quero encerrar deixando bem claro uma coisa: eu não estou igualando as duas situações porque igualáveis elas não são. José Genoino foi condenado em última instância por corrupção ativa e formação de quadrilha. João Paulo Cunha foi condenado em última instância por corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro. Feliciano não foi condenado por nada até agora, em instância nenhuma. Concorde-se ou não com o que ele pensa, e eu não concordo, sua presença numa comissão não é afronta nenhuma à democracia. As de João Paulo e Genoino são um escárnio. Um futuro presidiário e outro que só não irá em cana porque inexistem instituições para o regime semiaberto no país julgarem a constitucionalidade e a justiça de dispositivos legais é coisa de republiqueta, de país bananeiro, de nação controlada por uma súcia.

Parabéns aos evangélicos. É assim que se faz.

Por Reinaldo Azevedo

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