Digamos que há três semanas Dilma Rousseff tinha fama de gerentona, 57% de popularidade, uma coligação gigantesca, uma reeleição garantida e um padrinho chamado Lula. A situação dela agora é a seguinte: precisa verificar, urgentemente, o que Lula vai fazer quando voltar de sua viagem à África. Ele pode ser a única coisa que lhe resta.
O Datafolha informa que a popularidade de Dilma desabou 27 pontos percentuais em três semanas –de uma altura de 57%, despencou para 30%. E pensar que em março ela colecionava 65%! O último presidente a viver a experiência de um mergulho tão radical foi Fernando Collor. Entre março e junho de 1990, a popularidade dele ruiu 35 pontos –de 71% para 36%.
No caso de Collor, a explicação estava na cara: o confisco da poupança. No caso de Dilma, não há explicações peremptórias. Há no máximo duas probabilidades: o asfalto e a inflação. Se as ruas ensinaram alguma coisa na última quinzena foi que a irritação e a cobrança já não admitem ficar trancadas no Facebook.
Quanto à economia, relatório divulgado nesta semana pelo BC rebaixou a previsão do PIB anual e e elevou a da inflação. E o eleitor, agora tomado de rigores insuspeitados até bem pouco, grita nas esquinas. De acordo com o Datafolha, caiu de 49% para 27% a avaliação positiva da gestão econômica de Dilma.
Assim, a não ser que ocorra o milagre da combinação de um PIBão com uma carestia mixuruca, a vida de Dilma dificilmente voltará a ser como antes. Hoje, se dependesse da vontade da maioria do PT, o candidato do partido à Presidência da República se chamaria Lula.
Antes do tsunami de protestos, a especulação sobre uma eventual derrota de Dilma em 2014 era um desafio à lógica. Era algo equivalente a uma previsão de que o Brasil, jogando no Maracanã, perderia para a seleção do Taiti um jogo em que o juiz seria o Felipão.
O despertar das ruas –na verdade um bocejo de gigante que levou a felicidade do petismo junto com o ar— teve um quê de punição antecipada. Mostrou a Dilma e Lula que a arrogância não é boa conselheira. E informou ao PT que o meio-fio não tem dono.
A elevação da temperatura das ruas produziu em Dilma uma espécie de meltdown –termo incorporado pelo economês na década de 90 para simbolizar a situação de uma economia que desanda e começa a derreter. Mal comparando, pode-se dizer que Dilma está derretendo. O que faz de 2014 uma janela de oportunidades.
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