Governante algum gosta de ter uma CPI futucando seus podres. Muito menos em ano de eleição. Portanto, é natural que a presidente Dilma Rousseff e aqueles que ainda lhe são fiéis tentem evitar a investigação congressual das imoralidades bilionárias cometidas contra a Petrobras e o País. Mas seria aconselhável contrapor-se às apurações com alguma decência, dispensando ameaças tolas e explicações que não explicam.
Dizer que a operação e os valores pornográficos, de U$ 1,18 bilhão, pagos por Pasadena estão sendo investigados pelas autoridades competentes, como fez o recém-nomeado ministro Ricardo Berzoini, só piora as coisas. É desfaçatez pura.
Oito anos se passaram para que as tais “autoridades competentes” se tocassem que deviam questionar uma compra sabidamente lesiva. Uma transação para lá de estranha, firmada em tempo recorde de 20 dias e aprovada pelo Conselho de Administração da empresa a partir de um resumo tosco de duas páginas e meia. Parecer “falho” e “incompleto”, como confessou agora a presidente Dilma, na época ministra de Lula e presidente do Conselho.
O mais provável é que nenhuma dessas “autoridades” se mexesse sem que os jornalistas Andreza Matais, Murilo Rodrigues Alves e Fábio Fabrini, de O Estado de S. Paulo, escancarassem os descalabros. Continuariam sem se coçar não fosse a pressão da imprensa, que a cada dia expõe mais pedaços dessa história escabrosa.
É conveniente saber ainda quais “autoridades” apuram os danos provocados pela intimidade entre o ex Lula e Hugo Chávez, que, em acordo informal, quase de boca, impuseram à Petrobras o desembolso de R$ 20 bilhões na ainda incompleta refinaria Abreu e Lima (PE).
Traduzidas pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), as ameaças de combater a CPI ampliando o escopo das investigações só fizeram aumentar os impudores contra a petrolífera brasileira.
Espremido contra a parede, a única alternativa imaginada pelo governo foi a de investigar as licitações de trens em São Paulo e a construção do Porto de Suape. Manobra diversionista para tentar constranger o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O tiro pode sair pela culatra.
De duas, uma: ou o governo Dilma e o PT não creem em ilícitos nos dois casos ou compactuam com malfeitos. Do contrário, já poderiam ter usado a maioria que têm para instalar CPIs sobre os temas.
A terceira hipótese é que no afã de defender Dilma do que se tornou indefensável, meteram-se os pés pelas mãos.
Outros ainda vão vestir figurinos impróprios para tentar encobrir escândalos. Mas uma coisa é certa: de tão obscenas, as operações feitas dentro da aparelhada Petrobras podem deixar o governo nu. Que venha a CPI.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. Atualmente trabalha na agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. Twitter: @maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com
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