Vou colocar aqui no Blog dos Revoltados ON LINE, um texto que li de uma jornalista que reflete bem o mal do brasileiro, que é ele mesmo...
Quando se quebram as vértebras e os viadutos
Quem me conhece sabe que nunca fui favorável à Copa. Reconheço que o futebol mobiliza o espírito nacional, mas discordei do investimento bruto em obras faraônicas que pouco vão deixar ao país como legado, em detrimento daquilo que considero básico para o desenvolvimento de uma pessoa ou de uma nação: saúde, educação e ética. Discordei, sobretudo, da remoção de famílias para a construção dos estádios, do autoritarismo da FIFA, da violência policial nas ruas para sufocar protestos num ato bancado pelo Estado que protagonizou um linchamento do desejo daqueles que discordam da obrigação imperativa da “diversão a qualquer preço.”
Não me engano, o preço dessa Copa será alto para o Brasil. No ritmo da irresponsabilidade geral, tivemos nos últimos dias dois acontecimentos tristes e imprevisíveis: a queda de um viaduto, inaugurado com pressa, matando pessoas em Belo Horizonte e um golpe no talento de Neymar nesta Copa. Ele sofreu uma lesão grave na coluna que reproduz a falta de uma ética geral dentro e fora de campo. Quebraram-se no prazo de 48 horas a sustentação de um viaduto e a “coluna de esperança” da torcida. Mas o pior de tudo, depois dessas duas derrotas, foi observar que ontem à noite os torcedores continuavam a festejar histrionicamente a vitória do Brasil, expondo as vísceras da irresponsabilidade que permeia o espetáculo.
Vi de relance na TV a festa depois do jogo na Vila Madalena, em São Paulo, onde a torcida continuou bebendo e mijando nos muros, dando a dimensão da falta de sensibilidade que se reproduz em hábitos. Nesta manhã os garis devem estar limpando a sujeira, mas não conseguem limpar a falta de consciência e de educação. Ontem, não vi um minuto de silêncio nos estádios pelos mortos de BH. No caso de Neymar, não vi uma pausa que desse lugar a uma indignação concreta dos torcedores. Era o momento de se fazer um grande protesto contra o autoritarismo da máfia do futebol que comanda o show que nunca deve parar, mesmo quando se quebra um jogador em campo. Era o caso de se exigir nos estádios uma posição clara da FIFA em relação à violência que se pratica nos jogos, com a complacência de juízes que contribuem para a cegueira geral. Mas acho que o Brasil tb não sabe protestar, não sabe apitar, não sabe cobrar os pênaltis na hora exata, acostumou-se à alegria fabricada. Trata-se da derrota de uma sociedade vigiada pela polícia ou embalada pelo pagode da euforia que não identifica nem mesmo a tristeza de uma hora grave.
(Célia Musilli)
"Quando quem governa perde a vergonha o povo perde o respeito. "
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