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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Marina: muito avião para pouco sentido

A campanha de Marina Silva à Presidência começa a assumir uma dimensão um tanto perigosa. Ela se desenvolve em zonas de sombra, em que nada é muito claro, em que nada pode ser visto à luz do sol. Dos aviões que serviram ao PSB ao conteúdo do programa, tudo é ambíguo, incerto, sujeito a remendos. Será esse o melhor conteúdo para a chamada nova política? Basta que dois cardeais do marinismo façam acenos aos chamados “mercados” para que tudo fique no lugar?
Acho que não.
Mais um avião estranho surgiu na campanha do PSB. A Polícia Federal já investiga se o jato Cessna Citation 560 XLS, que caiu matando Eduardo Campos e mais seis pessoas, pertencia à Bandeirantes Companhia de Pneus Ltda. Agora, há outro jatinho suspeito: um Learjet 45, prefixo PP-ASV, que Campos usou no dia 20 de maio, em visita a Feira de Santana, na Bahia. Este, sim, está registrado na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em nome da Bandeirantes, que tem sede em Pernambuco. O dono da empresa é Apolo Santa Vieira. Pelo registro na Anac, o Learjet 45 foi financiado pela Bandeirantes. Como foi comprado por leasing, enquanto a empresa não terminar de pagá-lo, pertence ao Bank of Utah Trustee.
Apolo Viera é réu em um processo por sonegação fiscal na importação de pneus, via porto de Suape (PE), que gerou um prejuízo de R$ 100 milhões de reais aos cofres públicos. Sua antiga empresa, a Alpha Pneus, recorre em segunda instância. A Bandeirantes foi criada em 2004, em Jaboatão dos Guararapes (PE), e funciona em um galpão de médio porte.
E o que diz Marina Silva a respeito? Nada! Até agora, o PSB não conseguiu encontrar uma explicação para o primeiro jatinho. Também nada disse a respeito do segundo. Parece evidente que estamos diante de um caso escancarado de doação irregular de recursos para campanha — o chamado caixa dois, que pode resultar em cassação de candidatura e de mandato, a depender da fase em que se conclua o processo.
Não é só isso que Marina tem de explicar. Documento da Rede, que é seu real partido, defende o Decreto 8.243, aquele dos conselhos populares, e vai mais longe e prega o “controle social” da atividade política e defende que se criem “instâncias próprias para o exercício de pressão, supervisão, intervenção, reclamo e responsabilização”. Na aparência, parece bacaninha; na essência, pode não se distinguir de uma prática fascistoide.
Neste domingo, Marina negou a tentação totalitária e coisa e tal. O fato é que tudo, reitero, se desenvolve em zonas de sombra. Se não sabemos quem pagava os jatinhos do PSB, tampouco sabemos o real pensamento de Marina. Infelizmente, a imprensa brasileira, com raras exceções, tem usado para ela um critério bem mais manso e relaxado do que o empregado com os outros candidatos.
Uma eleição não pode ser determinada por um voo cego. É preciso que tudo seja debatido à claras.

Por Reinaldo Azevedo

Fonte: https://www.facebook.com/jucelia.hwisnieski

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