Por
Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net
Perdão, velho Karl Marx! Sua frase de
efeito “a História se repete como farsa” não se aplica, completamente, ao
Brasil. Aqui em Bruzundanga, sob regime Capimunista, além da farsa, nossa
historiografia inclui a tragicomédia sem a menor graça. No desejo permanente de
mudanças, praticamos as mesmas bobagens institucionais de sempre.
Prova disto é a bizarra sucessão
presidencial de 2014. As opções de escolha não satisfazem os eleitores.
Insatisfeitos com o governo ou a conjuntura vigente, os poucos que respondem às
duvidosas pesquisas eleitorais parecem sentir prazer em passar colírio no olho.
Não importa quem ganhe, a impressão que fica para aqueles com um mínimo de
consciência é que estamos perdidos...
A situação é surreal. O mal faz a festa. A
idiotice é generalizada. A corrupção é sistêmica. A sensação é de impotência.
Bandidos violentam, matam e roubam, impunemente. O Judiciário não funciona
direito – sem trocadilho. Sobram leis, conflitantes, para serem descumpridas. A
possibilidade de recursos infindáveis posterga decisões judiciais que deveriam
ser imediatas. O crime, cada vez mais organizado, compensa. Os criminosos
conquistam a hegemonia sobre a política e a economia. A Roubobras é a empresa
virtual mais bem sucedida de Bruzundanga...
A turma em aparente zona de conforto
econômica paga caro para ver o circo pegar fogo. O sujeito comum,
infernizado por impostos, carestia e dívidas, segue fazendo malabarismo para
sobreviver. A gigantesca economia informal – e muitas vezes ilegal – faz
milagres. A minoria esclarecida reclama muito – principalmente nas redes
sociais. Mas a queixa não se transforma em reação para mudar o que está errado.
A maioria segue o primeiro teorema do imortal sambista Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar;
vida leva eu”.
Os governos se aproveitam muito bem desse
fenômeno de inconformismo acomodado, da malandragem passiva que finge ser ativa
apenas na hora de negociar o voto. Quem recebeu algum benefício concedido pelos
poderosos de plantão aposta na continuidade da situação. Quem levou chumbo do
sistema se diz eleitor da “oposição”. Justamente aí mora o perigo: há muito
tempo não dá para definir, com clareza, o que é oposição de verdade no Brasil.
Assim, quaisquer espertalhões ou enganadoras podem se passar de “opositores” –
quando, na verdade, no máximo, desejam algumas reformas e trocas de personagens
nas cadeiras do poder para deixar tudo do mesmo jeito que sempre esteve.
O discurso ideológico esquerdista, por
exemplo, é uma das farsas mais tragicômicas de Bruzundanga. O fracasso político
dos governos dos presidentes militares – que foram fragorosamente derrotados na
batalha ideocrática – deixou o caminho livre para as aventuras demagógicas –
socialistas, sociais-democratas ou até comunistas. Os principais candidatos à
Presidência da República com chances reais de vitória são autodefinidos como
“de esquerda”...
Na ignorância de Bruzundanga, o
esquerdista, seja quem for, é santificado. O direitista é demonizado. Este
processo cultural tem até ajuda educacional do gramscismo. As crianças aprendem
nas escolas que o Capitalismo Selvagem é um dragão da maldade que precisa ser
derrotado pelos santos guerreiros. Assim, psicossocialmente, a política, no
Brasil, se transformou em uma guerra santa. No imaginário popular, o falso bem
combate o suposto mal.
O discurso messiânico esquerdista, mostrando-se
mais justo socialmente, frente aos abusos do capitalismo selvagem, abre espaço
para transformar uma eleição em um retrógrado conflito fundamentalista. De um
lado, a massa de pobres satisfeita com as migalhas que o governo lhes dá.
Muitos se identificam com os poderosos que “enricaram” (principalmente Lula da
Silva) já que eles lhes deram melhores condições de vida. Estes rejeitam a
oposição e, pragmaticamente, ficam fiéis com a situação. Eles são a chance que
a desgastada Dilma tem para permanecer no trono do Palácio do Planalto.
Do outro lado, uma classe média, temerosa
de que uma crise tire o que conquistou, se mostra dividida em várias partes.
Dois terços embarcam na aventura de uma Marina Silva – cuja imagem será
corroída pela máquina de propaganda petista, principalmente com a tese de que,
como foi petista no passado, agora é uma “traidora”... A viúva política de
Eduardo Campos vai apanhar, covardemente, nos próximos quinze dias... Será que
vai aguentar o tranco, e crescer? Eis a grande dúvida...
Um terço que sobra, descontente com Dilma,
apela para o Aécio Neves. Não por considerá-lo o melhor e confiar plenamente
nele. Mas por achá-lo “menos pior” que Dilma e Marina. Eis o motivo pelo qual o
tucano não cresce: ele é visto apenas como “paliativo” e não como “solução
consistente”. O PSDB falhou, novamente, na construção da imagem de seu
candidato. Aécio foi claramente sabotado pelo esquema paulista do partido – que
até fechou acordo com a turma de Eduardo Campos... A coisa é tão feia para Aécio
que, até na sua Minas Gerais, as classes mais pobres ameaçam apoiar a Dilma...
Nesse cenário eleitoral de hospício,
novamente, temos uma sucessão presidencial que não debate como resolver o
principal problema do Brasil: a descontrolada hegemonia do sistema financeiro,
encarecendo a produção com seus juros e taxas bancárias estratosféricas, que
ajuda a rolar a dívida pública que só cresce, em proporção idêntica à gastança
e roubalheira da máquina estatal, financiadas pelos absurdos 56 impostos que
encarecem a produção, geram inflação, tornam o “custo Brasil” impraticável e,
no final das contas, roubam o consumidor e prejudicam o crescimento econômico.
A tragicomédia pode ser facilmente
resumida. A maioria esmagadora clama por mudanças, mas, no fundo, não deseja
mudar coisa alguma, por comodismo, ignorância ou filhadaputice. Assim,
Bruzundanga continua vivendo seu eterno conto dos vigaristas, no pleno emprego
dos fatores de subdesenvolvimento capimunista, como a velha colônia de
exploração pós-moderna, artificialmente mantida na miséria, apesar do potencial
de riqueza e fartura.
O cenário de faz de conta fica ainda mais
canalha graças a nosso processo midiático. Pago, gratuitamente, royalties ao
leitor Paulo Figueiredo – que resumiu muito bem nosso drama, em um dos comentários
recentes nesta Alerta Total: “Não existe jornalismo no Brasil. O que há um
abjeto comércio de notícias. Dos mais podres. Além da prostituição, há a
idiotice generalizada”.
Traduzindo: o noticiário recebido pela
maioria das pessoas não consegue e nem quer entender ou explicar a realidade.
Deseja apenas entreter e lucrar. Quem se informa de verdade não usa a mídia
tradicional como principal fonte. Tem seus sistemas de inteligência para gerar
conteúdo confiável e baseado na verdade.
Se o leitor quer saber, nossa tragicomédia
institucional atingiu um nível tão absurdo que nem os mais bem informados estão
conseguindo entender, com exatidão, o que acontece, de fato e verdade, nesta
surreal sucessão presidencial. Uma certeza é bem clara: a continuidade do PT no
podre-poder inviabiliza o Brasil na competição global.
A brincadeira fica ainda mais estranha com a falta concreta de alternativa. A inconfiabilidade da Marina, que é uma incógnita, e a falta de pegada do Aécio, como substitutos da desgastada Governanta Dilma, escancaram o perigo cenário para uma instabilidade institucional a partir de 2015. A estúpida vitória do PT, ainda um risco possível, levará o Brasil a um processo de caça às bruxas. Os petralhas partirão para a guerra santa contra os inimigos que tentam, ainda, esmagá-los, pela via política e judicial.
A consequência natural de tal conflito?
Responda quem souber...
Quem puder chorar por último tende a rir
melhor, se restar alguma graça na hora do juízo final...
Fonte: http://www.alertatotal.net
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