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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

No Brasil do juro mais alto do mundo, Dilma ainda não sabe quem e nem como combater a inflação

Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net
Denúncias a rodo de corrupção e brigas políticas com o Congresso nem sempre são tão decisivas para desgastar e derrubar um desgoverno como o aprofundamento de uma crise econômica. Esta é a maior dor de cabeça de reeleita Dilma Rousseff que terá de fazer um enorme malabarismo verbal e um gigantesco contorcionismo estatístico para explicar como o Brasil se mantém como o País com a maior taxa real de juro (descontada a inflação pelo mundo) em um grupo de 40 países, depois que o ortodoxo Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil subiu a taxa Selic para 11,25%.

Qualquer dona de casa que vai às compras percebe a carestia – que os gênios econômicos preferem chamar de inflação. Quem precisa pegar dinheiro emprestado também constata o quanto tal operação fica mais cara e difícil de ser feita. O juro médio ao consumidor já chega ao absurdo percentual de 103,13% ao ano (o 13, na estatística, só pode ser uma sacanagem da matemática). No cartão de crédito, a usura é ainda mais covarde: 242,36% ao ano ou absurdos 10,80% ao mês. Assim, fica impraticável recorrer a qualquer linha de crédito: juros do comércio, cartão de crédito, cheque especial, financiamento veículos e empréstimo pessoal em bancos e financeiras.

Além de não ter um projeto de governo para conter a usura – que tanto lucro recorde gera ao sistema financeiro, enquanto faz crescer a dívida do setor público, das empresas e dos cidadãos, Dilma continua cometendo o erro tático de não anunciar imediatamente quem será seu ministro da Fazenda do segundo mandato. Certamente, ele nem sabe o que fazer para combater a inflação. Que dirá ter o nome certo de quem deveria cumprir tal missão em seu segundo mandato. Do jeito que o pirão desanda, Dilma pode até ser obrigada a engolir seu desafeto Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda ou no Banco Central.

Não tem jeito: Dilma continua sendo a Presidenta Incompetenta...

Não estava tudo bem com a economia?

Embora a inflação esteja fora do centro da meta e possa estourar o limite de 6,5% ao ano, como indica o IPCA-15, o aumento da taxa Selic para 11,25% ao ano não era esperada pela maior parte dos analistas.

Reginaldo Gonçalves, professor do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina (FASM), em São Paulo, avalia que qualquer medida de controle da inflação terá de ser conjugada com outros elementos do cenário econômico, não somente com o aumento da taxa selic em que corremos o risco de haver maior estagnação da economia e perda de competitividade:

“A economia está estagnada e não há perspectivas de reversão dos indicadores econômicos ainda neste ano. Diante disso, o Copom arriscando uma possibilidade de maior estagnação do setor industrial aumentou a taxa Selic nos patamares atuais. Novas manobras poderão ser efetuadas proximamente para conter a inflação, mas, os riscos de aumento da taxa de juros sem uma contrapartida do governo poderá prejudicar ainda mais o mercado, mesmo com um cenário ainda muito complexo”.

Reginaldo ressalta que é preciso avaliar o risco dos ajustes dos preços administrados, os oscilantes níveis de confiança do mercado e a necessidade de melhorar o custo Brasil.

Desacelarando

O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Rogério Amato, também ficou PT da vida com a subidinha dos juros:

“O aumento da taxa Selic revela que predominou, na reunião do Copom, a preocupação com a inflação, apesar do baixo nível da atividade econômica. Isso poderá contribuir para uma desaceleração ainda maior da atividade econômica. O que se espera, agora, é que o governo anuncie um ajuste fiscal crível e rigoroso que permita ao BC reduzir novamente os juros em sua próxima reunião”.

O problema, Rogério, é ficar esperando por aquilo que o governo capimunista do PT-PMDB nunca demonstrou vontade de fazer...

Mais bronca com os juros altos

“Não se esperava que o Comitê de Política Econômica anunciasse alterações na taxa Selic, o que agudiza as perguntas que o mercado se faz no momento. Nesse sentido, a alta na taxa Selic para 11,25% ao ano semeia desconfiança em relação ao direcionamento que o governo dará à política econômica”.

A surpresa foi do empresário Levi Ceregato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf).

Segundo ele, as autoridades econômicas e monetárias nacionais estão diante de um desafio que é a antítese do dilema chinês: “A China precisa aumentar o investimento em consumo interno para se manter crescendo, enquanto nós temos que mudar o drive do crescimento econômico para o investimento em produção, infraestrutura e capital fixo”.

Dilema sem solução

Ceregato lembra que é difícil equacionar pressões muito antagônicas.

“De um lado, há a pressão inflacionária, que trabalha a favor da elevação dos juros e pode se acentuar com o inevitável reajuste dos preços controlados e a baixa arrecadação, somados ao aumento dos gastos públicos. Do outro, está a necessidade de impulsionar o investimento produtivo para que o País ganhe competitividade e volte a crescer, retomando níveis de desenvolvimento compatíveis com sua importância econômica, o que é inconciliável com juros altos”.

Ainda contra a usura

José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico, pega ainda mais pesado contra a decisão do Copom:

“Aumentar os juros não vai contribuir em nada para diminuir a inflação, até porque, o crescimento do PIB deste ano deve ser zero, logo, não há como frear a economia. Para levar a inflação a níveis mais baixos é preciso urgentemente diminuir o custo de se produzir no Brasil e incentivar investimentos que aumentem a oferta e a concorrência. A decisão que o Copom acaba de adotar de aumentar a Selic para 11,25% ao ano não atende às necessidades do Brasil. Os juros altos esgotaram-se como único mecanismo de controle à inflação. Precisamos, sim, de ações estruturadas em médio e longo prazos para que a taxa básica de juros do Brasil deixe de ser refém do problema fiscal. Com o capital político conquistado com a reeleição, mas também precisando ouvir o clamor por mudanças de quase 50% do eleitorado que não votou nela, a presidente Dilma Rousseff precisa articular, rapidamente, forças que lhe permitam reduzir o déficit orçamentário e, consequentemente, a pressão sobre os juros. O alto custo do capital prejudica o aporte de investimento em empreendimentos produtivos”.

José Ricardo Roriz Coelho aponta uma direção e sentido para a solução do problema:

“O único caminho para voltarmos a crescer, sem inflação, é realizar mudanças profundas nas políticas fiscal e industrial, além de aumentar a competitividade para se produzir no Brasil a custos mais baixos. O custo de produção no Brasil é pelo menos 34% superior ao dos nossos concorrentes. Na indústria de transformação do plástico, que reúne 11.670 empresas, já começamos a sentir os reflexos na redução de postos de trabalho. Estamos operando com 67% a 70% de nossa capacidade, quando o normal é de 75% a 80%. A previsão para o fechamento do ano é de crescimento próximo a zero ou até mesmo negativo”.

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