Lindbergh Farias no Encontro Estadual do PT no Rio de Janeiro (Divulgação/VEJA) |
Delator de esquema bilionário de corrupção, ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse à Polícia Federal que atuou pela arrecadação de recursos para a campanha do candidato do PT ao governo do Rio de Janeiro
Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
Mais da metade das contribuições eleitorais obtidas pelo senador Lindbergh Farias (PT) foram feitas por empresas investigadas na operação Lava Jato, da Polícia Federal, de acordo com registros eleitorais divulgados nesta terça-feira. Esses doadores são investigados, nos desdobramentos da operação policial, pela suspeita de que pagaram propina a políticos e partidos como recompensa por contratos superfaturados da Petrobras nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. Na prestação de contas entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Lindbergh declarou ter arrecadado 7,3 milhões de reais e ter gasto 19,3 milhões de reais na disputa pelo governo do Rio de Janeiro, em que foi derrotado no primeiro turno. Restou uma dívida de 12 milhões de reais.
As maiores contribuições para a campanha de Lindbergh vieram da UTC Engenharia e da construtora Queiroz Galvão, que deram, cada uma, 1,425 milhão de reais. A construtora OAS foi a terceira maior contribuidora, com 950.000 reais. As três empreiteiras são investigadas em inquéritos da Polícia Federal originados pela operação Lava Jato. De acordo com os depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que colabora com as investigações, o trio faz parte do cartel de empresas envolvido no esquema de corrupção na estatal.
Mesmo feitas de forma oficial, as contribuições desses grupos empresariais nesta eleição viraram motivo de preocupação. E Costa complicou particularmente a situação de Lindbergh. O ex-diretor disse ter sido chamado para atuar na arrecadação de recursos para a campanha do candidato petista ao Palácio Guanabara. A confissão foi feita nos depoimentos do acordo de delação premiada, pelo qual o ex-diretor se comprometeu a dar informações que ajudem na investigação de crimes em troca de uma punição mais branda.
Anotações de doações – Duas folhas de anotações, encontradas pela polícia na residência de Costa no dia 17 de março, registram que ele fez pedidos de contribuições eleitorais para um candidato. Nos papéis, são relatados compromissos assumidos por empresas suspeitas de envolvimento no "petrolão", como foi batizado o esquema de corrupção na Petrobras. Em entrevista ao site de VEJA, Lindbergh negou que tenha sido beneficiado pela atuação do ex-diretor. O senador diz que Costa iria contribuir com a elaboração de propostas na área de óleo e gás para seu programa de governo, o que não se concretizou.
"Ele pode até ter falado com alguém, mas ninguém contribuiu para mim. Ele foi preso em março. Tive três reuniões com Paulo Roberto em janeiro. Não sabia que tinha investigação contra ele", afirmou Lindbergh ao site de VEJA.
Sobre a UTC Engenharia, os papéis indicam que a cobrança de doações teve sucesso, como demonstra a seguinte anotação: "já está colaborando, mas vai intensificar mais para a campanha a pedido de PR". PR é Paulo Roberto Costa. Lindbergh nega que a contribuição tenha sido intermediada pelo ex-diretor. "A UTC contribuiu porque conheço há muito tempo. Me ajudaram na campanha ao Senado em 2010. Se tivessem ocorrido as doações que Costa falou, eram legais. Mas não houve", afirmou.
As anotações indicam ainda que a Hope Recursos Humanos colaborou para a campanha: "já vem ajudando. Pediu para certificar se candidato está ciente. Vai ajudar mais a pedido de PR". Mas não houve nenhuma contribuição oficial da Hope Recursos Humanos no documento de Lindbergh entregue ao TSE. O senador diz que não recebeu nenhum tipo de doação do grupo. Há também sinalizações positivas, nos papéis, para doações da Mendes Júnior, Engevix, Iesa e Toyo Setal, que também não aparecem na prestação de contas.
As empresas passaram a ser investigadas não apenas pelo depoimento de Costa e pelos documentos apreendidos. Com a quebra dos sigilos bancário e fiscal, a polícia encontrou provas financeiras do envolvimento de diversos grupos empresariais com o doleiro Alberto Youssef e com o ex-diretor da estatal. UTC Engenharia, OAS e empresas ligadas a executivos da Toyo Setal depositaram recursos em contas bancárias de empresas de fachada de Youssef, o principal operador do esquema que também passou a colaborar com as investigações. Para a polícia, as transferências bancárias eram destinadas ao pagamento de propina para políticos e partidos envolvidos no esquema. Como revelou VEJA, Costa indicou três ex-governadores, um ministro de Estado e mais de 20 parlamentares como beneficiários. A investigação da rede de corruptos está só no começo.
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