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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Ainda sentiremos saudade do tempo em que o Carnaval era financiado por bicheiros e traficantes

Foto: Flavia Lucena
Não tenho muita paciência para o Carnaval, sabem disso. Se a Beija-Flor mereceu ou não a vitória, segundo os critérios para mim insondáveis do ziriguidum, do balacobaco e do telecoteco, não sei. Mas que é uma vergonha, ah, isso é. Mais uma! Está virando a nossa cara, não é? A escola foi patrocinada por um ditador homicida, comprovadamente ladrão, tido como o nono governante mais rico do mundo, chamado Teodoro Obiang Nquema, que esmaga com mão de ferro e suja de sangue a Guiné Equatorial desde 1979, quando depôs o tio com um golpe de Eetado, condenando-o à morte.

Seu filho, Teodorin, é considerado seu sucessor. Sabem como são as novas monarquias africadas. O troglodita-chefe é amigão do ex-presidente Lula, que já chefiou uma delegação de empresários ao país, a mando da presidente Dilma. A Guiné Equatorial foi originalmente colonizada por portugueses, passando para o domínio espanhol no século 18. É independente desde 1968. É um grande produtor de petróleo e, vejam que ironia, tem o PIB per capita mais alto da África, embora a esmagadora maioria da população viva com menos de um dólar por dia, na miséria absoluta. É que tudo vai para os bolsos do ditador, do amigão de Lula.

A ditadura quer instituir o português como mais uma língua oficial, embora não se fale por lá o idioma. É que o sanguinário quer puxar o saco do Brasil para romper certo isolamento internacional. Por isso, o país já se candidatou a integrar a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Quem patrocina a patuscada? O Brasil. Os demais membros resistem.

Os governos do PT, de Lula e Dilma, anistiaram uma dívida de US$ 27 milhões que o país mantinha com o Brasil. Dinheiro de pinga. A petezada alega que o Brasil vendia só US$ 3 milhões para a Guiné Equatorial e passou a vender US$ 700 milhões. A questão não é econômica, mas política e simbólica. Ao fazer a negociação, é claro que o petismo incensa, uma vez mais, uma ditadura. A turma é tarada nisso.

A ditadura negou oficialmente que tenha financiado a Beija-Flor. Em nota, o ministro da Informação, Imprensa e Rádio, Teobaldo Nchaso Matomba, afirmou que a iniciativa do patrocínio partiu de “empresas brasileiras”. Durante as comemorações pelo título na quadra da escola, o carnavalesco Fran-Sérgio, integrante da comissão de carnaval da escola, citou Queiroz Galvão, Odebrecht e grupo ARG como patrocinadores do enredo. Em nota, a Odebrecht nega que tenha participado do patrocínio, informa não ter negócios na Guiné Equatorial e afirma que fechou seu escritório no país no ano passado. Segundo a empresa, esse é mais um boato espalhado por difamadores profissionais.

Para encerrar: a Polícia Federal afirma que Teodoro Obiang Nquema esteve, sim, no Brasil para acompanhar o desfile e que um aparato de segurança foi mobilizado para a sua proteção. A ditadura nega.

Ainda sentiremos saudades do tempo em que o Carnaval era financiado por bicheiros e traficantes.

Por Reinaldo Azevedo


Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/

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