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sábado, 11 de abril de 2015

FHC diz que Dilma perdeu capacidade de liderança e entregou o governo

Três dias depois de a presidente Dilma Rousseff delegar a articulação política do governo ao vice-presidente, Michel Temer (PMDB), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a capacidade de liderança de Dilma está abalada e afirmou que a presidente entregou o comando político e financeiro do país a quem pensa de forma diferente dela. Para o ex-presidente tucano, Dilma perdeu a credibilidade. FHC afirmou ainda que parte da solução para enfrentar a crise está em não fazer "conchavo" nem acordos obscuros.

Ao falar para uma plateia de empresários em São Paulo, o ex-presidente disse que o governo precisa de liderança para superar os problemas políticos e econômicos. "Estamos, por circunstâncias, em um momento em que a capacidade de liderança de quem está na Presidência está muito abalada, tanto que entregou a chave do cofre para alguém que pensa o oposto. E entregou para ele fechar o cofre. Ela não pode mexer mais no cofre", afirmou FHC, em referência ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy. "E agora, [Dilma] entregou o comando político para outro que também pensa diferente, para outro partido. É uma situação delicada que estamos vivendo", disse, ao participar do VTEX Day, evento de comércio eletrônico na capital paulista.

FHC afirmou que a queda da aprovação do governo está ligada à perda de credibilidade da presidente. "Infelizmente o que aconteceu no Brasil nos últimos meses não foi uma perda de popularidade só. Popularidade você ganha, você perde. Mas foi perda de credibilidade. Aí não tem jeito", disse. "Quando não tem nem popularidade nem credibilidade fica difícil mover as peças. Se não ganhar a credibilidade não vai". O ex-presidente tucano disse que "haverá forçosamente uma mudança", mas lembrou que o país vive um sistema democrático.

Ele afirmou que o país vive uma crise "política, econômica, moral e um começo de mal-estar social". "É crise para não botar defeito. É muita coisa junto. Erro de condução de política econômica". Na palestra, o ex-presidente citou o escândalo de desvio de recursos da Petrobras, chamado de "petrolão", ao falar sobre a crise política enfrentada pelo governo. "Não pode dirigir um país na base do ?dá lá-toma cá' incessantemente. Gera uma crise moral. O petrolão é só o mais impactante, mas não é o único. É uma série, um sistema de modelo de negócios, que não funciona. Ou melhor, funciona mas para poucos e o dinheiro é nosso", afirmou.

Na análise do ex-presidente, a saída para a crise, com a retomada da governabilidade, passa pelos protestos nas ruas, pelo bom funcionamento da Justiça e pelos meios de comunicação divulgarem "o que está acontecendo", ampliando a informação. "Não fazer conchavo, conciliação. Em algum momento sempre tem que ter algum acordo. A sociedade não funciona em pé de guerra o tempo todo, mas o acordo não pode ser debaixo do pano. Tem que ser alguma coisa sustentada pela opinião da sociedade", disse.

Sem citar diretamente as manifestações contra o governo, que devem se repetir neste domingo, FHC disse que os grupos organizados da sociedade civil "têm muita capacidade de mobilização, mas não têm de implementação".

"É uma espécie de ato de protesto, de desespero, mas e depois? O que acontece? Não se sabe, porque as instituições estão muito rígidas. As instituições disponíveis, o partido, o Congresso, a forma de governar vêm de outra época", disse.

Na palestra de quase uma hora, marcada por críticas aos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma, o ex-presidente tucano afirmou que a presidente "merece um prêmio Nobel ao contrário". "Ela conseguiu colocar a Petrobras na posição que está, segurar a inflação, arrebentou com o etanol, usinas faliram e na parte hidrelétrica deu nó nas finanças que estão todas quebradas. Isso tem que ser refeito", disse.

FHC criticou ainda a forma como o governo federal investe no Bolsa-Família, uma das principais marcas da administração petista na Presidência. O tucano disse que a desigualdade social continua grande no país e disse que pior do que o tamanho da desigualdade é o modelo usado para reduzi-la, de transferência de renda. "Não foi um modelo de incentivo ao trabalho, de engajamento e de criação de novos campos de prosperidade. A transferência de renda é necessária como estímulo, mas não como resultado final. Se mantiver no Brasil a tendência vai criar uma camada de funcionários públicos que não são funcionários públicos, mas que dependem do Tesouro", afirmou. "Uma camada dependente, que é crescente, que se veste, come, está melhor alimentada, mas não é isso que se deseja numa sociedade moderna e dinâmica."

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