A presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto: sem razões para o otimismo do primeiro ano de mandato.
(Ueslei Marcelino/Reuters)
(Ueslei Marcelino/Reuters)
Feriado da Independência se dá com o país imerso em crises econômica e política. Presidente participará do desfile, mas não falou à população e se esconderá sob tapumes mais altos temendo protestos.
Por: Carolina Farina e Marcela Mattos, de Brasília
Em 6 de setembro de 2011, Dilma Rousseff falava sorridente à nação, em seu primeiro pronunciamento como presidente da República para celebrar o Dia da Independência: "O mundo enfrenta os desafios de uma grave crise econômica e cobra respostas novas para seus problemas. Os países ricos se preparam para um longo período de estagnação ou até de recessão. Mas a crise não nos ameaça fortemente, porque o Brasil mudou para melhor".
Quatro anos depois, Dilma abriu mão de discursar em rede nacional de rádio e televisão por ocasião do Dia da Pátria: alvo de três grandes protestos populares por sua saída e imersa em uma crise política sem precedentes, a presidente está sitiada no Planalto. Sua desastrada gestão da economia mergulhou o país na recessão, colocou em risco as conquistas sociais das últimas décadas e, de fato, mudou o Brasil - para pior.
Na economia, o governo Dilma acumula recordes preocupantes: em doze meses, a inflação acumulada chega a 9,56% (maior índice desde novembro de 2003). O Produto Interno Bruto (PIB) recuou 1,9% no segundo trimestre e a previsão é de deterioração na atividade econômica do país tanto em 2015 como em 2016. Analistas do mercado esperam uma queda no PIB de 2,26% ao fim deste ano e de 0,40% no próximo. Se confirmada a projeção para 2015, este será o pior resultado do PIB em 25 anos - em 1990, a economia brasileira encolheu 4,35%. Em um movimento inédito, o governo apresentou ao Congresso uma proposta de Orçamento para 2016 com previsão déficit de 30,5 bilhões de reais. Foi a primeira vez que o documento trouxe uma previsão de gastos maior que a de receitas. E pior: parlamentares dizem que o déficit pode passar de 60 bilhões de reais.
Líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB) afirma sobre a situação: "Não há nada a comemorar, apenas a reafirmação da luta que o povo brasileiro está travando contra a corrupção, a incompetência e a crise econômica provocada pelo governo. É um dia de luta pela real independência do povo para que o Brasil fique livre sobretudo da corrupção. A projeção é que essa crise vai se estender enquanto a presidente Dilma estiver conduzindo esse desgoverno. Mais um ano chegamos a um Sete de Setembro sem ter o que celebrar".
A taxa de desemprego no Brasil atingiu 8,3% no segundo trimestre, maior patamar da série histórica iniciada em 2012, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. De janeiro a julho, o país perdeu quase 500.000 vagas com carteira assinada - e analistas não descartam que esse número dobre até o final de 2015. Sem dinheiro, o governo foi obrigado a comprometer programas que serviram de vitrine eleitoral para a presidente: repasses para o Pronatec foram reduzidos - e atrasados -, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) perdeu quase 26 bilhões de reais e o Minha Casa, Minha Vida terá uma redução de 30% nos investimentos em 2015.
Sem apoio - Associada à derrocada econômica, está a grave crise política que levou o fantasma do impeachment de volta para o Planalto: Dilma amarga um índice de aprovação inferior ao de inflação e, como reconheceu o vice-presidente Michel Temer em encontro com empresários na última quinta-feira, terá dificuldades para se manter no poder pelos próximos três anos com tamanha rejeição. "A situação é grave, o governo tem baixíssima popularidade, mais do que isso, o governo hoje não tem uma base política sólida, por erros do próprio governo", afirmou na sexta-feira o senador Romero Jucá (PMDB-RR), sobre a postura do vice. "Ou o governo dá um cavalo de pau, muda radicalmente, e consegue passar outro tipo de expectativa para sociedade ou vai ter muita dificuldade."
A presidente não perdeu apenas o apoio das ruas, mas também o do Congresso e de seu partido. Antigo desafeto de Dilma, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rompeu oficialmente com o governo em julho. E desde então tem aumentado a sequência de constrangimentos ao Planalto na Casa. Até mesmo o sempre comedido Temer tem adotado uma postura de independência em relação à petista: abandonou as Relações Institucionais e criticou abertamente a desastrada articulação do Planalto para tentar recriar a CPMF. Pemedebistas não descartam o rompimento oficial do partido com o governo no congresso da legenda, em novembro. PTB e PDT já romperam com a aliança governista e anunciaram posição de independência. Juntas, as bancadas dos dois partidos têm 44 deputados.
"Essa é uma data em que a população vai se conscientizar de tanta incompetência e corrupção no país. O 12º ano da era PT é a caracterização do caos administrativo e da corrupção instalada em todos os níveis do governo. O único alento que nós teremos acontecerá se as lideranças assumirem as suas responsabilidades e promover uma antecipação da eleição no país. Do contrário, são apenas frases soltas, como a do vice Michel Temer, dizendo o óbvio sem apresentar nenhuma alternativa, mesmo vendo o agravamento do quadro político, econômico e social", afirma o senador Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM na Casa.
Protestos - Diante do quadro, novamente uma parcela da população se prepara para sair às ruas nesta segunda. Lideranças regionais do movimento Vem Pra Rua pretendem realizar protestos no interior de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Palco do desfile que receberá a presidente, a capital federal deve ser o grande palco dos atos anti-Dilma neste feriado. Um protesto diante do Museu da República já foi convocado por movimentos anti-governo.
Embora negue oficialmente preocupação com protestos nesta segunda-feira, o governo tem monitorado as redes sociais para avaliar o risco de manifestações contra a presidente - e dá como certo que Dilma ouvirá vaias durante o desfile de Sete de Setembro. Para evitar maiores protestos, a Esplanada dos Ministérios será fechada na altura da Catedral de Brasília. A partir dali, não será possível seguir com bandeiras, faixas ou bonecos - uma forma de evitar que o personagem Lula Inflado, ou Pixuleko, divida com a presidente o protagonismo no desfile. Como informou a coluna Radar, de Lauro Jardim, o tapume que ficará perto do palanque das autoridades aumentou de tamanho: o governo quer evitar que cartazes anti-Dilma sejam filmados pelas câmeras de TV.
Nenhum comentário:
Postar um comentário