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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Por que Lula, um contumaz falastrão, refugia-se no silêncio?

Lula e Marisa (Foto: Michel Filho /
Agência O Globo / Arquivo)
Ricardo Noblat

O homem, qualquer homem, é ele e suas circunstâncias.

Somente Lula conhece a real dimensão da enrascada em que está metido desde que se tornou alvo de investigações policiais. Somente ele sabe o que há de verdades e de mentiras em tudo que se diz e se publica ao seu respeito desde o escândalo do mensalão, passando por escândalos menores e desaguando no mar de lama do Petrolão que ameaça tragá-lo.

Por isso fica difícil avaliar a correção ou o erro do seu comportamento dao sentir-se emparedado por sucessivas denúncias. A nos fixarmos nas mais recentes: a de que comprou um tríplex no Guarujá, reformado de graça pela construtora OAS, só desistindo dele mais tarde quando o assunto virou notícia.

E a de que oculta patrimônio quando se serve de um sítio em nome de terceiros reformado gratuitamente pela OAS e também pela Odebrecht, empresas contempladas durante seus governos com milionários contratos e metidas até o talo na roubalheira da Petrobras. Lula guarda um silêncio de ferro a respeito, considerado incômodo até mesmo por seus amigos.

Convocados pelo Ministério Público de São Paulo, ele e a mulher, Marisa Letícia, deveriam depor, hoje à tarde, no Fórum da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista. Esperava-se que os dois respondessem a perguntas sobre a compra interrompida do tríplex. O Conselho Nacional do Ministério Público suspendeu os depoimentos.

Atendeu a um pedido de liminar assinado pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP) que questiona a legitimidade do condutor do processo. Teixeira alegou que o promotor de Justiça Cassio Roberto Conserino feriu a lei ao antecipar em entrevista à VEJA sua decisão de denunciar Lula e a mulher por ocultação de bens.

A liminar foi concedida para “tão-somente” suspender a prática de qualquer ato pelo Ministério Público de São Paulo no processo de investigação de Lula até que o plenário do Conselho decida se o promotor Conserino violou ou não a lei. Quer dizer: o processo irá adiante com Conserino ou outro promotor.

Um dos deputados mais ligados a Lula, Teixeira não pediria a concessão de uma liminar sem antes consultar seu guia e mestre. Lula não autorizaria a Teixeira a pedir a liminar se não visse no ato de pedir vantagens para si e para Marisa Letícia. Que vantagens? A eventual troca de promotor? O adiamento do interrogatório inevitável?

O procedimento esperado da parte de alguém inocente é que se apresse a dissipar todas as suspeitas que o alcançam, não deixando nenhuma pergunta sem resposta. Ninguém mais do que Lula deveria estar interessado em pôr um ponto final na “mais sórdida e gigantesca campanha de difamação que jamais atingiu um ex-presidente por aqui”. Não é o que seus seguidores têm dito por aí afora?

Mas Lula, conhecido por seu espírito de luta, por uma disposição férrea para o confronto, por sua ousadia de preferir sempre o ataque à defesa, parece acuado. Vergonhosamente acuado. Como se de repente tivesse perdido a iniciativa. Como se a perplexidade que tomou conta dele fosse hoje muitas vezes maior do que seu instinto de preservação. Por quê?

Bom de gogó, por que ele não convoca uma entrevista coletiva de imprensa e responde sem tangenciar a todas as perguntas que lhe façam? Não uma entrevista com blogueiros amestrados, dependentes de verbas públicas, que já o entrevistaram tantas vezes amigavelmente. Afinal, Lula tem medo do quê? Esconde-se por quê? Cala-se por quê?

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