Flavio Morgenstern28/04/2017
O PT fez uma greve em nome do povo, mas contra o povo, batendo no povo, para fazer o povo acreditar que tinha mais povo na greve.
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Enquanto o povo trabalha com um conceito de trabalho baseado numa equação com fatores como vocação, necessidade, vontade, dificuldade, estudo e venda de algo desejável para a população, quem adere a conceitos quase sempre ultrapassados como uma greve trabalha ainda com o conceito de trabalho marxista: todo patrão sobrevive no luxo com uma tal “mais-valia” incalculável, e as pessoas só terão liberdade com uma revolução (comunismo) ou com um Estado gigante que sufoque qualquer livre iniciativa com “direitos trabalhistas”, “direito de greve” e outras quinquilharias, até ser o único agente com importância na sociedade (socialismo).
A suposta “greve geral” convocada por órgãos com efeito paramilitar do PT e de partidos de extrema-esquerda no Brasil, como CUT, MST, UNE et caterva, apenas quis inflar à força os números de supostos “grevistas” no país. Suas pautas, genéricas como o “Sentimento Difuso no Ar” que marcou junho de 2013, falam em “direitos trabalhistas” (quando praticamente nenhum direito trabalhista mudou, ou está em vias de mudar, fora a contabilidade da aposentadoria), mas não dizem ao público sub-pautas como “Contra a prisão de Lula” ou “Contra o fim do imposto sindical”.
O problema é que a esquerda ultra-politizou a vida normal no Brasil, e a ultra-politização fez com que não seja mais possível alguém, mesmo o menos interessado em política ou o menos estudado dos humildes, não saiba de que partido estamos falando quando usamos nomes genéricos como “centrais sindicais” para não falar no PT (de que adianta se “disfarçar”, sendo que nas siglas e nas cores, ninguém é capaz de definir alguma diferença entre um e outro?).
A hashtag #AGreveFracassou ficou entre os assuntos mais comentados no Twitter no mundo. Afinal, de que adianta tentar convencer o povo de que há mais povo defendendo a greve do que o povo acredita, sendo que é o próprio povo querendo ir trabalhar que é impedido pelos sindicalistas de ser povo? Como escrevi em meu livro referindo-me a junho de 2013, “Naquelas primeiras manifestações não havia povo. Sindicalista não é povo — quem dirige o povo não pode ser considerado povo.”
É uma greve sem trabalhadores, uma greve em nome do povo que bate no povo. Uma greve muito engraçada: não tinha povo, não tinha nada. Pior: contra uma “reforma trabalhista e previdenciária” que era proposta pela pessoa em quem os grevistas votaram, e que está sendo levada a cabo pelo vice da pessoa em quem os grevistas também votaram, que dizem que é “golpe” que o vice da pessoa siga exatamente a mesma política da pessoa original.
Uma greve supostamente deveria causar mobilização e sensibilização da população a favor de “trabalhadores”. Como são os próprios trabalhadores que sofrem com a greve, cada vez mais apartados dos sindicatos que apenas atrapalham a sua vida (e seu trabalho), não houve nenhum apoio à chamada “greve geral” ou suas causas – como acontecia nos anos 90 com o MST, entendido como um “movimento de gente procurando trabalhar”.
Se existisse alguém na Via Láctea que apóia Michel Temer, o vice da Dilma, estaria aí a oportunidade perfeita para defender o presidente número 13-confirma. Afinal, algo criticado por MST, CUT, UNE e quejandos não pode ser uma coisa tão ruim. Afinal, sindicalistas fazem greve “em nome do povo”, mas para isso, precisaram socar e espancar o povo. Como obter o velho apoio sentimental que a esquerda tinha com suas idéias de jovens esfumaçados?
Restou uma pseudo-greve vazia, que não engana nem leitor de Carta Capital em seu objetivo de defender Lula e criticar o fim do imposto sindical. Como escreveu Bruno Garschagen neste Senso Incomum, o real objetivo é mirar no futuro, nas gerações desconhecedoras do modus operandi do sindicalismo: nem mesmo eles acreditam em uma tese furada como evitar a prisão de Lula. Tal como fizeram em relação à ditadura, tentarão contar a história na bolha das salas de aula, protegidos de quem viveu o período: dirão que apenas eles defenderam “direitos trabalhistas” contra “um golpe”.
Mas de greve mesmo, falando em nome do povo, só vimos o povo rindo de um muxoxo de “grevistas” que nunca trabalharam para poder fazer greve, enquanto grevistas apenas agrediam o povo. Que apoio esperam ter para seu plano socialista doravante?
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