Pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves (Evaristo Sa/AFP) |
Enquanto se consolida como o nome tucano para disputar a Presidência em 2014, o senador mineiro se depara com desafios que terão de ser superados se o partido não quiser passar mais quatro anos na oposição
Gabriel Castro, de Brasília
A campanha eleitoral de 2014 só deve tomar corpo a partir de março. Mas, desde já, os candidato começaram a mapear os obstáculos que encontrarão no ano que vem. No caso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que deverá ser o adversário tucano de Dilma Rousseff, algumas dificuldades já são claras. Para construir uma candidatura sólida, será preciso amarrar os palanques estaduais, assegurar a unidade interna do partido e tentar minar a ampla base de apoio de Dilma – já que é pouco provável que o PSDB consiga causar alguma defecção no bloco dominante.
Durante algum tempo, a falta de unidade interna foi apontada como o principal problema para a consolidação da candidatura de Aécio: a ala paulista do partido, especialmente o grupo ligado ao ex-governador José Serra, ofereceria resistência ao projeto do senador mineiro. Aos poucos, a oposição a Aécio foi se enfraquecendo: em maio, ele assumiu a presidência do partido. Mesmo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o líder do partido na Câmara, o paulista Carlos Sampaio, afirmam que o momento é de Aécio. Na última semana, depois que Aécio lançou as bases programáticas de sua campanha eleitoral, Serra deu um sinal de que consente com a candidatura do mineiro – embora aliados afirmem que ele não tenha cedido definitivamente.
A prioridade de Aécio, agora, passa a ser a montagem de palanques (que não vai mal) e a atração de partidos aliados (que não vai bem).
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O PSDB tem, por exemplo, o governador do Pará, Simão Jatene, e o prefeito de Manaus, Artur Virgílio, o que deve garantir bons palanques nos dois principais Estados da região Norte. No maior Estado do Nordeste, a Bahia, os tucanos terão o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), como cabo eleitoral – e esperam montar um palanque forte, com a presença do PMDB, na disputa pelo governo estadual. A legenda tem o governo do Paraná, com Beto Richa, e conversas bem-encaminhadas para fechar alianças com o PP no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. No Centro-Oeste e no Sudeste, a expectativa é manter a vantagem obtida pelo partido nas eleições de 2010, com José Serra.
Mas também há indefinições: em Minas Gerais, o partido ainda não decidiu quem será o candidato. O ex-ministro Pimenta da Veiga e o deputado federal Marcus Pestana são os nomes mais prováveis. Ambos têm desempenho ainda tímido nas pesquisas eleitorais em que o petista Fernando Pimentel e o peemedebista Clésio Andrade aparecem como os candidatos mais lembrados.
No Rio de Janeiro, o tucano ainda não sabe quem será seu candidato. O PSDB é fraco no Estado, e o projeto de César Maia (DEM) não empolga Aécio. O tucano quer convencer o técnico de vôlei Bernardinho a disputar a sucessão de Sérgio Cabral (PMDB), mas a aposta é incerta. Em São Paulo, Aécio pode ter um clima não tão amigável. Geraldo Alckmin não deve ter uma eleição fácil na busca pelo sexto mandato consecutivo para o PSDB no Estado. E ainda não se sabe como José Serra vai se comportar durante a campanha.
Parcerias - O tucano terá de formar uma coligação sólida, não só para garantir os palanques regionais, mas para assegurar um bom tempo de exposição na TV e no rádio durante o período de propaganda eleitoral gratuita. Hoje, ele tem como seguros apenas os apoios do DEM e do novo Solidariedade. O primeiro partido, esvaziado desde as eleições de 2010, tem 26 deputados. O segundo, por ser recém-criado, tem direito apenas ao tempo mínimo na propaganda eleitoral.
No campo das alianças partidárias, a candidatura do governador pernambucano Eduardo Campos (PSB) tornou o cenário mais árido para Aécio: o PPS, que esteve com os tucanos em 2006 e 2010, já anunciou apoio ao candidato socialista.
Pelas contas do time de Aécio, a aliança atual renderia cerca de quatro minutos de exibição em cada programa eleitoral. A coligação da presidente Dilma Rousseff teria cerca de doze minutos, enquanto Eduardo Campos ficaria com pouco mais de dois minutos. Os tucanos querem assegurar ao menos cinco minutos na TV e no rádio – e estimam que sete seria o melhor cenário possível.
Mas a formação de alianças tem se mostrado uma tarefa árdua: o único partido com negociações abertas além do DEM e do Solidariedade é o PV. Fora isso, resta aos tucanos manter conversas com PTB, PR, PP e PDT para, ao menos, garantir a neutralidade dessas siglas. Desta forma, o tempo de TV das legendas seria distribuído entre os outros partidos, o que amenizaria o desequilíbrio de forças.
Firmadas as alianças, o mais provável é que o DEM pleiteie o posto de vice na chapa. E aí surgirá outro dilema para os tucanos: agradar os tucanos paulistas ou o aliado leal de quase duas décadas? Na primeira hipótese, o nome pode ser o do senador Aloysio Nunes Ferreira. Na segunda, pode ser o também senador José Agripino Maia (RN).
Agripino, aliás, já avisa: "Quando um partido com a história e a estrutura do DEM compõe uma aliança, é de se supor que isso pressuponha a participação na chapa", diz. Certo é que os tucanos querem que o vice seja de São Paulo ou do Nordeste, para facilitar a conquista de votos em áreas onde Aécio tem tereno a ganhar.
Oposição - Aécio Neves nunca fez parte da linha de frente da oposição: no Senado, foi criticado por se esquivar do confronto com o governo nos momentos mais agudos, como as crises que derrubaram ministros durante o governo Dilma. Nos últimos meses, o senador elevou o tom de seu discurso. Mas ainda precisa acertar o tom da campanha: não por acaso, o marqueteiro Renato Pereira deixou a equipe do tucano há poucos dias.
Parte das discordâncias diriam respeito à interação do tucano pelas redes sociais. O time do tucano criou uma ofensiva virtual, mas o próprio Aécio não interage diretamente com os internautas.
A aproximação – virtual e física – de Aécio com os eleitores é outro tema que precisará ser aprimorado no ano que vem. Especialmente nas regiões onde o senador é pouco conhecido. O tucano já começou a percorrer o país, mas tem se dedicado a encontros com lideranças políticas e do setor produtivo. O corpo a corpo ainda não está em pauta.
Enquanto isso, a presidente Dilma Rousseff elevou a quantidade de viagens e de eventos públicos já no início de 2013. A grande exposição da petista na televisão é uma desvantagem que Aécio ainda não combate com eficiência: para garantir espaço nos meios de comunicação, é preciso gerar fatos relevantes: uma declaração contundente, o anúncio de uma medida original ou uma atitude inusitada – são célebres as fotos de Fernando Henrique Cardoso em cima de um jegue, na campanha presidencial de 1994.
O presidente do PSDB mineiro, Marcus Pestana, diz que o mais importante é assegurar ao candidato uma exposição positiva no horário eleitoral e nos telejornais. O deputado federal, que também é um dos estrategistas de Aécio, relativiza o peso dos palanques regionais e dos comícios: "É evidente que a eleição presidencial se decide muito mais pela comunicação de massa, particularmente pela TV. Em 1989, o PRN só tinha um prefeito e o Collor virou presidente", diz. As urnas mostrarão se a estratégia é adequada.
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