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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Uma rede de empresas fantasmas e laranjas… Naquele avião, não estava o voo do novo

Por Reinaldo Azevedo
Se o Brasil fosse um ente, com um centro organizador do pensamento, seria o caso de lhe propor um desafio: escolher, afinal de contas, que democracia pretende ter — desde, é claro, que fizesse uma escolha prévia: decidir se pretende ou não continuar na trilha democrática.

Leio que Marina Silva deixou para revelar, na entrevista de hoje ao Jornal Nacional, a sua explicação para o grave imbróglio do avião sem dono que serviu à campanha do PSB. Ele não transportou apenas Eduardo Campos. A própria Marina foi sua usuária. O aparelho era apenas a parte voadora de uma estrutura de campanha que continua a servir a agora candidata titular.

Reportagem levada ao ar, nesta terça, pelo Jornal Nacional, evidencia a existência de um esquema obviamente criminoso envolvendo o avião. E não estamos falando apenas de crimes eleitorais. Também os há de outra ordem. Resta evidente que há uma rede de empresas fantasmas para disfarçar a origem do dinheiro — vindo de onde? Pessoas foram usadas como laranjas na operação, algumas delas, é bem possível, sem que nem mesmo soubessem.

Vamos repetir, no caso no avião, o mesmo paradigma empregado no caso do mensalão? Vamos considerar que aquela que acabou sendo a beneficiária principal de um esquema criminoso não tem de responder nem politicamente por ele? Não estou aqui a inferir que Marina soubesse, necessariamente, das tramoias e das lambanças. A questão principal, no que lhe diz respeito, é de natureza política, não penal.

No debate desta terça-feira, na Band, a candidata insistiu na tecla da “nova política”. Mais de uma vez, pregou a necessidade de o país se livrar do que considera “polarização” entre PT e PSDB, mesmo reconhecendo o que considera heranças positivas dos dois partidos. Deu a entender que, com ela, a coisa é diferente.

Vamos aguardar, então, as suas justificativas logo mais. Qualquer coisa que não seja a admissão de um crime eleitoral escancarado, óbvio, indisfarçável, será apenas expressão de uma farsa.

Ocorre que, numa sociedade democrática, existem leis, que devem ser cumpridas. Se crime houve — e houve —, Marina é também beneficiária de seus efeitos. A sua candidatura deriva daquela estrutura; aliás, ela só é candidata porque aquele avião se tornou uma espécie de protagonista de uma narrativa, não é mesmo?

Por muito menos, vereadores, prefeitos e deputados tiveram cassados seus mandatos. Não é verdade, então, que Eduardo Campos e Marina estivessem a tecer a rede de uma nova política. Ao contrário: nada mais velho do que tudo o que se sabe sobre o avião e sua, esta sim, rede de empresas fantasmas e laranjas.

Estou curioso para saber que resposta dará Marina 14 dias depois do acidente. Que os brasileiros ouçam a sua explicação. E que decidam se estamos, mesmo, diante do novo ou se, de novo, o velho lobo se finge de cordeiro.

Naquele avião, está claro, não estava o voo do novo. 


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