Um dos carros alegóricos homenageando a Guiné Equatorial, oprimida há 36 anos por um ditador corrupto e sanguinário (Foto: Daniel Ramalho/VEJA) |
Não é coincidência, não: a Beija-Flor ganhou o Carnaval do Rio patrocinada por um ditador ladrão e sanguinário porque somos um país sem vergonha na cara
O principal desfile de escolas de samba do país tinha que acabar como acabou: com a vitória de uma agremiação, a Beija-Flor de Nilópolis, que homenageou a Guiné Equatorial, ex-colônia espanhola na África rica em recursos naturais – o país é o terceiro maior produtor de petróleo do continente –, mas de povo famélico e miserável, que ostenta 144º lugar em matéria de Índice de Desenvolvimento Humano da ONU.
Para se ter uma ideia do que isso significa, a Guiné Equatorial está 100 posições abaixo de Cuba em matéria de IDH. Sete de cada dez habitantes sobrevive com menos de 2 dólares por dia, segundo o Banco Mundial.
Quem conduz os destinos do país, e controla suas finanças pessoalmente, boa parte das quais vai comprovadamente para suas contas pessoais no exterior, é o ditador corrupto e sanguinário Teodoro Obiang — que nenhum país da Europa Ocidental aceita receber –, há 36 anos no poder com mão de ferro. Para completar o quadro, Obiang está criando mais uma dinastia republicana, já que seu herdeiro designado é o filho, “Teodorín”. Ambos compareceram ao Sambódromo do Rio.
Obiang, cujo regime é condenado em todos os foros internacionais decentes, colocou 10 milhões de reais à disposição da Beija-Flor — e tudo bem. A diretoria da escola, feliz, aceitou, seus integrantes desfilaram com garra e entusiasmo, e ela venceu o Carnaval.
Belíssima metáfora, sem a menor dúvida, para um país sem vergonha na cara, como nós somos.
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