Boneco de Lula caracterizado como presidiário virou símbolo destes tempos |
É claro que o tema corrupção teria de entrar na entrevista concedida pela presidente Dilma Rousseff aos três jornais. Aí, de fato, a presidente vai um pouco além do razoável e aposta excessivamente na credulidade dos brasileiros. Não é prudente para quem tem apenas 7% de popularidade.
“Não imaginava [pessoas ligadas ao PT envolvidas com irregularidades na Petrobrás]. Fui surpreendida. Lamento profundamente. Sou a favor de uma coisa que Márcio Thomaz Bastos [advogado e ex-ministro morto no ano passado] dizia. Não espere que sejam as pessoas a fonte da virtude. Tem de ser as instituições. Elas é que precisam ter mecanismos de controle. Quem pode colocar luz sobre um processo de corrupção é a maturidade institucional do País. Acho que somos uma democracia forte. Porque as instituições não são vulneráveis aos desígnios pessoais de quem quer que seja. Ninguém pode chegar à Presidência e olhar para processos de corrupção como uma coisa pessoal. Só pode olhar e ver que o País deu um passo e foi para frente. Agora, sou a favor, em qualquer circunstância, do direito de defesa. É isso que torna a democracia forte.”
Ainda que os petistas só tenham descoberto as virtudes do direito de defesa depois da chegada ao poder, vá lá: quem, além deles, era contra?
O que não dá para engolir é a surpresa, não é mesmo? Especialmente porque a cúpula do seu partido já tinha ido parar na cadeia por causa do mensalão. Atenção! A Operação Lava-Jato havia começado em março. Sabem quando a então candidata à reeleição Dilma Rousseff admitiu pela primeira vez a possibilidade de roubalheira na Petrobras? Só no dia 18 de outubro, faltando apenas oito dias para o segundo turno das eleições e 13 depois do primeiro. As pesquisas apontavam uma possível dianteira de Aécio Neves.
E não que ela tenha sido clara, peremptória. Disse então:
“Eu farei todo o meu possível para ressarcir o país. Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não: houve, viu?”.
“Eu farei todo o meu possível para ressarcir o país. Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não: houve, viu?”.
Notaram o “se”? Paulo Roberto Costa decidira fazer delação premiada em agosto, comprometendo-se a devolver R$ 70 milhões. Alberto Youssef, em setembro. Em outubro, a candidata do PT ainda tinha dúvidas sobre o envolvimento do seu partido na sem-vergonhice.
A presidente Dilma deveria ter um pouco mais de respeito pela inteligência alheia. Até então, o PT tratava as denúncias de roubalheira na Petrobras como um grande complô para privatizar a empresa.
Encerro com uma observação absurda feita por Dilma, depois de jurar a sua proximidade eterna com Lula:
“Minhas relações com Lula são as mais próximas. Quem tentar me afastar dele não conseguirá. Mas botar bomba no Instituto Lula, fazer aquele boneco (Lula vestido de presidiário) é um desserviço para o País.”
“Minhas relações com Lula são as mais próximas. Quem tentar me afastar dele não conseguirá. Mas botar bomba no Instituto Lula, fazer aquele boneco (Lula vestido de presidiário) é um desserviço para o País.”
A afirmação é típica de uma mente perturbada. Jogar a bomba no instituto é mesmo inaceitável e certamente é coisa de gente que queria que os petistas contassem com esse ativo, digamos, moral. É coisa de quem queria o PT como vítima.
Quanto ao boneco, qual é o problema? É parte da liberdade de expressão. A menos que Dilma reclame dos muitos de Eduardo Cunha malhados nas passeatas do PT, o juízo, além de confundir livre expressão com violência, ainda comete o pecado da censura seletiva.
Dilma deveria ter se poupado e ter nos poupado. Já que não o fez, merece ser desconstruída.
Por Reinaldo Azevedo
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