RECIFE — A Pastoral do Turismo da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) está atribuindo “cartão vermelho” à “ inversão de prioridades” no uso do dinheiro público do país para eventos como a Copa do Mundo, e critica o fato de o governo delegar “responsabilidades públicas” a grandes corporações e entidades privadas que se apropriam do esporte.
A confederação ressalta, no entanto, que o governo só marcará “gol da vitória” quando ninguém for perseguido por trabalhar em espaço público, e direitos dos consumidores e torcedores forem respeitados. O recado está impresso em milhares de panfletos que vão ser distribuídos nas doze cidades sede do evento mundial.
Em três línguas – português, espanhol e inglês – os folhetos foram produzidos especificamente para a Copa do Mundo, segundo informou o Coordenador Nacional da Pastoral do Turismo da CNBB, Dom Anuar Battisti. Eles já começaram a circular nas dioceses, estão prontos para a distribuição, e expressam “a preocupação das Igrejas” com oito pontos que merecem “cartão vermelho”. O primeiro deles é “a exclusão de milhões de cidadãos ao direito à informação e à participação nos processos decisórios sobre as obras que foram realizadas para a Copa”.
A CNBB também reclama da remoção “de famílias e comunidades para a construção de obras dos estádios ou de mobilidade, “com violação ao direito de moradia em comunidades e bairros populares”. Criticam “a inversão de prioridades para com o dinheiro público que deveria servir, prioritariamente, para a saúde, educação, saneamento básico, transporte e segurança”.
Citam o aprofundamento das “desigualdades urbanas” e a degradação ambiental. E também “a apropriação do esporte por entidades privadas e grandes corporações, a quem os governos vêm delegado responsabilidades públicas”. Segundo Dom Anuar, houve exagero nas despesas com o evento esportivo:
- O que foi gasto na construção de estádios e outras obras foi um absurdo. Mas não adianta mais reclamar, porque a Copa vai acontecer de fato. Então resolvemos dar esse alerta, disse o religioso.
- O jogo vai começar, e o Brasil se torna um imenso campo de futebol sem arquibancadas ou camarotes. Somos convocados a formar um único time, no qual somos todos titulares do jogo da vida – dizem os folhetos, alertando que “uma vitória de todos” só acontecerá se algumas das exigências fundamentais forem cumpridas.
A entidade enumera seis iniciativas que representam “gol da vitória”. Entre elas, a garantia de que a população de bairros populares e moradores de rua tenham direito de permanecer em suas localidades. Pedem, ainda, que ninguém seja perseguido por trabalhar em espaço público, e que movimentos sociais não sejam criminalizados e tenham respeitado o direito de ir a manifestações de rua.
No fim, a Pastoral afirma que, “como Igreja, nos comprometemos a acompanhar torcedores e jogadores, nas suas demandas por momentos de espiritualidade e encontro com Deus, bem como ser presença orante durante toda a Copa”. Eles fazem, ainda, apelo para que populações vulneráveis sejam acompanhadas “especialmente aquelas em situação e rua, para que não sejam retiradas de logradouros públicos, durante a Copa, e depois devolvidas às ruas, como objetos que atrapalhem a realização do evento”. Além dos folhetos, a Pastoral do Turismo orientou as dioceses para que promovam missas em várias línguas durante o evento mundial.
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