Flavio Morgenstern - 12/07/2017
Há uma narrativa de que "Lula foi condenado sem provas". Conversa de petistas para tapear eleitores: não faltam provas documentais no caso.
A narrativa atual feita pelos petistas e pela esquerda diante da condenação de Lula pelo juiz Sérgio Moro, já que o mito do “Lula dos pobres” foi desfeito, é a de que o ex-presidente teria sido condenado “sem provas”, tão somente usando-se a força da lei para impedir que Lula disputasse as eleições de 2018.
A narrativa (e tudo o que importa em política, como em boa parte da vida, são narrativas) é complementada com tentativas de associar o juiz Sérgio Moro aos adversários eleitorais do PT, o PSDB (que só apoiou o impeachment de Dilma depois de toda a sociedade), além da Rede Globo, que é incalculavelmente mais pró-PT do que anti-PT.
Assim, petistas tentam comparar a condenação de Lula, com as provas documentais do caso do triplex (incluindo documentos na casa de Lula em São Bernardo, que são provisoriamente “esquecidos” na hora de engabelar o povo), com as provas contra Aécio e Temer. O primeiro é uma anta o suficiente para deixar pastas com a sigla “cx 2” em sua casa (sic). O segundo tem contra si, justamente, a Rede Globo, que fez um auê desgraçado sobre uma frase de Temer gravada por Joesley Bastista, que nem comprovou tanto o sentido que a Globo (e o país) queria que tivesse.
Mas, bem ao contrário da típica narrativa petista, abundam provas documentais, além das testemunhais e circunstanciais, no caso da condenação de Lula. O que a Justiça tem de fazer é montar um todo coerente, mostrando que qualquer outra visão (como a de que Lula não usufruiu do triplex) possui incoerências. E assim o fez.
A decisão do juiz Sérgio Moro possui 218 páginas. É hilariante pensar que qualquer petista a tenha lido em 2 minutos antes de sair esbravejando no Twitter que “Moro condenou sem provas” para a militância roboticamente repetir, no conhecido processo de dog whistle. Até falando do “terno preto cafona” e da “voz que não combina com a cara” de Sérgio Moro. E olha que era ninguém menos do que o breguíssimo Big Brother Jean Wyllys tentando dar lição de elegância.
Há provas que precisam tão somente de contextualização. Por exemplo, Lula ter informado à Justiça Eleitoral que pagou R$ 47.695,38 pelo apartamento. Um vizinho pagou em torno de R$ 925 mil pelo mesmo apartamento, mostrando que Lula foi beneficiado através de desconto na folha de propina da OAS. Não é preciso muito esforço para entender o caso, seria uma questão de matemática no vestibular que até quem faz Letras acertaria.
Há prova documental de memorial descritivo que aponta a uma reforma estrutural do triplex, mostrando que é o único com elevador privativo. Além de prova documental sobre a instalação da cozinha.
Algumas outras só precisam ser analisadas pelas circunstâncias, decorrendo das provas materiais para que sejam entendidas. Por exemplo, o fato de o triplex nunca ter sido colocado à venda (então, quem teria mandado fazer a reforma? quem seria “o chefe” e quem seria “a madame”?), a um só tempo em que Lula nunca tenha negociado, em momento algum, o preço do triplex.
Há ainda documentos apreendidos na sede da Bancoop, cooperativa aboletada de petistas que deu o calote em mais de 3 mil famílias, que pagaram por casas que nunca tiveram, enquanto Lula achava que um triplex no Guarujá era um apartamento “muito apertado” para sua família passar um fim de semana (presidente dos pobres que tirou trilhões da miséria etc, sem ressarcimento e condenações até hoje). É a Bancoop que faz a triangulação e passa o imóvel para a OAS.
Reportagem d'O Globo de 2010 sobre o triplex no Guarujá de Lula |
É por isso que jornalistas safados, apostando na ignorância de seus próprios leitores, soltam manchetes recortadas da realidade, como “Moro usou reportagem do Globo como prova”, crendo muito acertadamente que seus leitores são ignaros estúpidos, sem dizer que a citação só comprova que Lula usava o triplex como seu, e não que isto foi usado como “documento”.
Apenas para corroborar as provas documentais vão sendo adicionadas outras provas, como os testemunhos, mensagens, manuscritos com códigos etc. É aí que são analisadas, por exemplo, mensagens no celular de Paulo Gordilho, arquiteto e ex-executivo da OAS, citando reformas em “sítio” e “praia”. Ou no celular de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, se referindo ao projeto do “chefe” e para marcar com a “madame”. Ou ainda testemunhos de funcionários da OAS e do edifício Solaris declarando que Lula e Marisa eram tratados como donos do apartamento, e não “prováveis compradores que nunca adquiriram o triplex”.
A defesa de Lula insiste em uma tese para chamar a patuléia ignorante para as ruas, sabendo que os eleitores de Lula são ignorantes e se surpreendem com palavras, sem conhecer seu significado. É a tese de que o apartamento está em nome da OAS, portanto, “não é de Lula”. Jornalistas do porte de colunistas do Estadão, ao invés de estudar minimamente mais do que uma criança, compram e espalham a advocacia de Lula.
Como já explicamos, Lula é investigado, entre outros, pelo crime de ocultação do patrimônio, ou seja, escondeu da Justiça um patrimônio, usufruindo-o na vida concreta sem tê-lo comprado legalmente. Qualquer um pode comprar um bem se puder pagar por ele. Já não se pode receber vantagens indevidas de alguém que comprovadamente recebeu benesses do PT de Lula (tanto que até teve de devolver o dinheiro) na forma de propina. Tudo isto está provado com documentos, e ainda corroborado com testemunhos e contextualizado por circunstâncias.
Ainda que Lula tivesse o apartamento em seu nome, se o tivesse recebido como “presente” da OAS, como os próprios valores, reforma, intenção da empreiteira e confissões de culpa dos envolvidos e presos por isso o confirmam, ainda assim Lula estaria cometendo um crime. Apenas Lula confiou que uma mera triangulação disfarçaria o caso para a Justiça, que tanto fechou os olhos aos seus desmandos anteriores.
O próprio Sérgio Moro explicou a questão irrefutavelmente.
É claro que ainda há pasto e circunstância para interpretações bovinóides, que nas ganas de tentar defender Lula per fas et per nefas, acabam não percebendo que confessam a culpa do chefe da quadrilha.
Por fim, sobretudo nas manjadas comparações com Temer e Aécio (“há provas, não apenas testemunhos!”), petistas dos mais variados quilates vão repassando às classes mais baixas do seu estamento hierarquizado em vertical a noção de que “não há provas” contra Lula, pois só há “depoimentos”.
Em primeiro lugar, confissão é prova. Não é apenas prova: como diz o brocado jurídico, confissão é a rainha das provas – Confessio est regina probationum. Ao tentar tratar testemunhos como “não-provas”, petistas tratam seus próprios fãs como retardados, tapados facilmente manipuláveis por palavras chocantes.
Ninguém confessa e aumenta sua própria pena à toa. O showzinho feito por petistas que estão com o seu na reta, repetido por jornalistas com pouco uso de sua massa cinzenta, emulado por professores, sindicalistas e autoridades locais e, por fim, macaqueado pela militância com pouco estudo, ignora tal obviedade.
É como se Léo Pinheiro, Marcelo Odebrecht, João Vaccari (além de ex-tesoureiro do PT, ex-presidente da Bancoop) et caterva de repente tivessem virado, digamos, reacionários direitistas conservadores (talvez até meio Bolsonarianos) e quisessem ferrar Lula (“perseguição“, não é esta a palavra que usam?) tão somente pelo prazer de destruir a carreira de um “inimigo”.
A única coisa que estão fazendo é provando o esquema do qual participaram, no qual se refastelaram e enriqueceram (e delação premiada sem provas é anulada), e no qual, por ventura, para desgosto de quem vê em Lula um santo, o próprio Lula foi não apenas partícipe, mas maestro.
A única forma de o PT tentar enganar seu público é crendo que todos os delatores, que nem podem ficar sabendo das delações uns dos outros antes de delatarem, são na verdade direitistas mancomunados que combinaram de antemão uma história golpista e, por mera coincidência, estão todos a falar que Lula é culpado. Pela Teoria da Mera Coincidência.
Não há inteligência capaz de comprar esse disco riscado repetindo acerebradamente que “Lula foi condenado sem provas” e nunca ir além da martelação contínua dessa frase oca jogada à canalha. Caso você ainda seja petista, está na hora de rever se seus ídolos não o tratam como um imbecil inepto tão facilmente tapeável e substituível por alguém mais útil caso a ocasião mude.
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Fonte: http://sensoincomum.org/
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