Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
Como forma de celebrar os 465 anos da cidade de Salvador, a Associação Comercial da Bahia convidou-me para proferir uma palestra a seus associados na sessão da última quinta-feira, dia 27. Apresento aqui uma síntese do que lhes disse.
Salvador é a nossa cidade. Salvador é o nosso jardim. Salvador é a nossa casa. Pelos mais diversos motivos, moramos aqui. Um tem o seu lar em Salvador porque aqui nasceu e nem conseguiria se imaginar morando longe da Bahia de Todos os Santos. Outro veio para esta cidade por causa do comércio ou de uma indústria. Há os que aqui moram por causa das artes, particularmente da música. Eu nela resido pela fé. Morando aqui, independentemente do que está registrado em nossa certidão de nascimento, somos todos soteropolitanos. Portanto, todos nós somos responsáveis por Salvador.
Em 1551, quando a cidade tinha somente dois anos, o então Papa Júlio III criou a “Diocese de Salvador”. Na Bula de criação desta primeira Diocese do Brasil, ele se mostrou profético: “...como em uma das ditas Prefeituras, intitulada Bahia de Todos os Santos, tivesse [o rei João – rei de Portugal e Algarves] fundado uma povoação, chamada cidade de São Salvador (...); e como se pode perceber que a dita cidade (....) está fadada a ser notável, quer pela fertilidade dos campos, quer pela benignidade do clima, [pela] existência de povo e de grande comércio, a ponto de poder e dever ser decorada com o nome e título de cidade (...), separamos e desmembramos perpetuamente a sobredita cidade de (...) Funchal, na ilha da Madeira...” Salvador nasceu, pois, “fadada a ser notável”.
Passados 465 anos, qual é a Salvador que temos? Destaco cinco características desta cidade: (1ª) é acolhedora, pois seu povo, além de abrir as portas da cidade para quem chega, abre, também, as portas de seu coração; (2ª) é rica em belezas naturais: as paisagens da Bahia de Todos os Santos são inesquecíveis; seu pôr do sol – espetáculo que se renova cada dia – nos faz todos poetas; suas praias e palmeiras lhe dão um clima de festa permanente; (3ª) tem uma história invejável: aqui, “se toca com a mão” a História do Brasil; (4ª) é possuidora de igrejas belíssimas, com imagens e pinturas que emocionam a todos; e (5ª) tem uma culinária própria e criativa, que é famosa por sua qualidade.
Qual a Salvador que queremos? Queremos uma Salvador (1º) ética, isto é, que dê oportunidade a todos – única forma de se evitar a violência e as injustiças; (2º) solidária – portanto, respeitadora da dignidade da pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus; (3º) que dê primazia ao bem comum, para que cada pessoa e grupo possa atingir a própria perfeição; (4º) fraterna – isto é, que saiba conjugar os verbos partilhar, repartir e dividir, uma vez que o enriquecimento da cidade ou de alguns grupos não significará, necessariamente, que toda a população terá uma vida melhor; (5º) marcada pela esperança – que se constrói com a colaboração de cada um de nós. Uma grande luz poderá iluminar esta cidade, se as pessoas de boa vontade se unirem, participando de sua construção, cada qual com seus dons. Precisamos alimentar o sonho bíblico: “Vi, então, um novo céu e uma nova terra” (Ap 21,1). Esse é o sonho de Deus para a vida de seus filhos. Ele deseja que vivamos num mundo em que a paz e a fraternidade, a justiça e a solidariedade sejam realidades cotidianas, normais, em toda a parte e para todos. Ora, os planos de Deus são sempre possíveis, porque amparados por sua Palavra e acompanhados por sua graça. Deus, porém, não costuma trabalhar sozinho nem nos dá as coisas prontas, mas espera a nossa participação em seus trabalhos.
Se cada qual colocar à disposição da comunidade a sua inteligência, a sua capacidade de trabalho, os seus conhecimentos, a sua sabedoria e, especialmente, o seu amor ao próximo, a ponto de aceitar dedicar algumas horas de sua semana como voluntário em uma entidade assistencial, o resultado será surpreendente. Juntos, construiremos uma Salvador que honrará o seu nome.
Fonte: http://www.cnbb.org.br
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