sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

"Petrobras simboliza todos os males do Brasil", diz Le Monde

"Petrobras: história de um escândalo
que faz o Brasil tremer",
diz Le Monde.

Reprodução
"Petrobras: história de um escândalo que faz o Brasil tremer", diz Le Monde. 

A corrupção e os maus resultados do balanço da Petrobras são tema de duas reportagens na grande imprensa francesa nesta quinta-feira (29). O diário econômico Les Echos diz que o Brasil “se afunda no escândalo”, enquanto o verspertino Le Monde, em uma chamada de capa, afirma que “a Petrobras simboliza todos os males do Brasil”.

Ilustrada com uma foto da presidente Dilma Rousseff levando aos mãos ao rosto, o artigo do correspondente no Rio de Janeiro afirma que a multinacional pagou propinas durante 10 anos, “principalmente para a coalizão que está no poder”, notadamente o PT, o PMDB e o PP. “Nenhum grupo industrial personificou tanto a ascensão do Brasil, e nenhum se viu no coração de um escândalo. Atingido pela revelação de um sistema de corrupção e de propinas generalizado, o gigante petroleiro se tornou em alguns meses o símbolo de todos os males do Brasil”, afirma o repórter Nicolas Bourcier.

O artigo de página inteira faz um resumo da trajetória da empresa nos últimos anos, a partir do seu auge, no final dos anos 2000, com a descoberta do pré-sal – quando a presidente Dilma Rousseff chegou a afirmar que “Deus era brasileiro” –, até o atual estado, com a divulgação de um balanço, na última quarta-feira (28), revelando a deterioração das contas da empresa. O balanço omite os custos da corrupção e não contou com auditoria da consultoria PwC, que se recusou a avalizar o documento.

O Le Monde reproduz os três cenários possíveis para o futuro da empresa elencados pela revista brasileira Exame. No cenário otimista, o preço do barril do petróleo sobe, a empresa reconhece a corrupção e suas ações sobem 60%. No cenário intermediário, o preço sobe menos, o ritmo das construções de plataformas diminui, mas a produção de petróleo aumenta. No cenário pessimista, o valor do barril se aproxima dos US$ 75 e a empresa precisará pagar uma multa de R$ 340 milhões, contando com o BNDES para se salvar. “O risco de um desmantelamento da empresa ou de uma divisão das atividades com vistas em uma privatização parcial é evocado”, diz o Le Monde.

Les Echos: "Brasil afunda"

A publicação do balanço financeiro do terceiro trimestre de 2014 da Petrobras ganhou destaque no diário econômico francês Les Echos, que não poupa críticas à situação da empresa e suas repercussões para a imagem do país. O escândalo é revelador do nível de corrupção praticado no Brasil, diz o texto da reportagem publicada na edição desta quinta-feira (29).

"O Brasil se afunda no escândalo político financeiro da Petrobras" é o título de uma reportagem ilustrada com uma foto da presidente Dilma Rousseff e da presidente da Petrobras, Graça Foster, vestidas com o macacão da empresa durante a campanha presidencial, em setembro do ano passado.

“Foi durante a noite, quase na clandestinidade que o gigante brasileiro do petróleo publicou seu balanço... do terceiro trimestre de 2014!”, exclama o jornal, lembrando que a divulgação dos dados  era aguardada desde novembro e havia sido adiada duas vezes.

No entanto, o balanço ainda é oficioso porque ainda não passou pelo crivo de auditores externos, informa o jornal. A presidente da empresa admitiu que ainda não é possível avaliar com precisão a extensão dos estragos provocados pela corrupção e sua depreciação nos ativos da empresa.

E não foi por falta de procurar, ironiza Les Echos. Os especialistas adotaram um método que identificou um buraco de R$61,4 bilhões, mas a empresa preferiu usar as regras e exigências das comissões de regulação das bolsas de valores do Brasil e dos Estados Unidos para exibir dados mais confiáveis. Nada disso deu garantias e resgatou a confiança dos investidores, constata o artigo.

O choque na Bolsa de São Paulo foi tão violento que o anúncio de que o lucro líquido da Petrobras caiu 38% em relação ao segundo trimestre do ano, e registrou queda de 9% na comparação com o terceiro trimestre de 2013, quase passou despercebido.

Situação desconfortável

Apesar do otimismo apresentado por Graça Foster com a chegada do executivo João Elek para pilotar o comitê de Governança, Risco e Conformidade da empresa, a situação atual da Petrobras não é nada confortável.

“Sem balanço oficial e muito endividada, a Petrobras não tem mais acesso aos mercados financeiros”, lembra Les Echos, que cita ainda o impacto negativo sobre os planos de investimentos e o abandono de vários projetos como a construção polêmica de duas refinarias.

Les Echos também destaca o pedido da presidente Dilma Roussef para que os envolvidos no escândalo de corrupção sejam punidos, “mas sem que a empresa saia prejudicada”. Descoberto há pouco menos de um ano, o escândalo da Petrobras continua provocando estragos e sua extensão se amplia a cada dia, enfraquecendo a maior empresa do país. “O caso Petrobras é revelador do alto grau da corrupção que persiste no Brasil”, afirma Les Echos.

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