Presidente enfrenta nova crise em seu governo após saída de Geddel Vieira Lima
POR MARIA LIMA E ISABEL BRAGA 27/11/2016
BRASÍLIA — Político profissional a ponto de dar origem a um verbete, o ex-senador, ex-governador e ex-ministro Antônio Carlos Magalhães ensinava a máxima: nunca nomeie um amigo que não possa demitir. O presidente Michel Temer tem enfrentado crises que sugam a credibilidade de seu mandato justamente por não conseguir sair das garras da “turma” de amigos que o segue há mais de 30 anos no PMDB.
A primeira crise se deu com a queda do ex-ministro Romero Jucá (PMDB-RR), investigado na Operação Lava-Jato e, mesmo assim, alçado à liderança do governo. Foi até a beira do precipício com o presidente cassado da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e, agora, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) lhe jogou no colo a maior crise de seu governo ao pressionar um colega de equipe, o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, a liberar um empreendimento imobiliário embargado pelo Patrimônio Histórico.
Para líderes aliados e da oposição, falta a Temer um pouco do espírito do ex-presidente Itamar Franco que, após o impeachment de Fernando Collor, ameaçou deixar o cargo se os amigos continuassem lhe impondo constrangimentos. Em situação semelhante a de Geddel, Itamar afastou o então ministro Henrique Hargreaves, alvo de denúncias de tráfico de influência, até que o caso fosse analisado pela Comissão de Ética da Presidência.
Para o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), o governo deixou de ser de coalizão e virou uma cooptação da turma de amigos:
— Temer, para dar certo, teria que mudar muito, e não sei se ele tem temperamento para afastar os amigos. Talvez devesse consultar o espírito do Itamar Franco. Quando ele assumiu e começou a ser pressionado, deu um ultimato para a turma: “Não me façam imposições porque, se não, largo essa Presidência!”.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admite que não é fácil demitir amigos, mas é preciso fazê-lo:
— Não há nada pior do que demitir um amigo, mas às vezes não tem jeito, não é questão pessoal, é política.
— Ele (Temer) está rebaixando a posição de presidente. Confundiu o cargo com amizade. Péssimo enxadrista: para proteger o bispo, abriu a guarda do rei — critica o líder do Democratas, senador Ronaldo Caiado (GO).
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