Reinaldo Azevedo |
Nojo!
Asco! Engulhos! Procurem aí as palavras todas que sintetizem o estômago
revirado para resumir o que, agora sabemos (e ainda é tão pouco!), se
passava, e talvez se passe ainda, na Petrobras durante os governos
petistas. O presidente da empresa, no período, era o militante petista
José Sérgio Gabrielli, hoje um dos braços-direitos do governador Jaques
Wagner (PT), da Bahia. No cargo, Gabrielli se tornou notório pela
arrogância, pela rispidez e pela prepotência. Afinal, era o dono da
bola! Em parte do tempo em que vigorou o esquema sujo, Dilma estava na
presidência do Conselho da Petrobras; depois, na Presidência da
República. A Justiça divulgou os áudios dos respectivos depoimentos de
Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal, e do
doleiro Alberto Youssef. Ambos estão presos e fizeram um acordo de
delação premiada. PT, PMDB e PP dividiam, segundo a dupla, o butim da
corrupção, mas a parcela maior ficava com os petistas.
Paulo
Roberto e Youssef eram os principais operadores da quadrilha que passou a
atuar na empresa a partir de 2006. Nota à margem: a dupla conta tudo
com precisão burocrática, cartorial, como se estivessem dizendo: “Hoje é
sexta-feira”. Na voz, não há tensão, constrangimento, vergonha. A maior
empresa brasileira era usada como caixa de partidos políticos e como
fonte de enriquecimento de larápios. É preciso ter uma boa-fé que
ultrapassa a linha da estupidez para acreditar que um esquema de tal
magnitude vigorasse na estatal sem que o titular do Palácio do Planalto
soubesse. Até porque, segundo a dupla, João Vaccari Neto, tesoureiro do
PT, era peça-chave do esquema.
Paulo
Roberto e Youssef citam o nome de 13 empreiteiras como fontes pagadoras
de propina. Entre elas, estão as gigantes Camargo Corrêa, Odebrecht,
Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e OAS, que negam qualquer
irregularidade. Em seu depoimento, Youssef foi explícito: “Se ela [a
empresa] não pagasse [a propina], tinha a ingerência política e do
próprio diretor; ela não fazia a obra se ela não pagasse”. Vocês leram
direito: para fazer uma obra para a Petrobras, só pagando propina, que
era, segundo os depoentes, incorporada ao valor do contrato — vale
dizer: as empreiteiras eram apenas usadas como repassadoras de um
dinheiro que os bandidos roubavam do cofre da empresa.
E como
funcionava? Simples! Paulo Roberto Costa diz que cada grande contrato
com a Petrobras tinha uma propina de 3%. Nas suas palavras: “Me foi
colocado lá pelas empresas, né?, e também pelo partido que, dessa média
de 3%, o que fosse diretoria de Abastecimento, 1%, seria repassado para o
PP. E os 2% restantes ficariam para o PT, dentro da diretoria que
prestava esse tipo de serviço, que era a diretoria de Serviços”.
Assim,
Paulo Roberto e Youssef, que operavam em parceria, cuidavam do 1% da
propina que era paga ao PP — o engenheiro que está preso foi posto lá
pelo partido. E dos 2% do PT, quem cuidava? Youssef esclarece: “O
contrato é um só. Por exemplo, uma obra da Camargo Corrêa de R$ 3,48
bilhões. Ela tinha que pagar R$ 34 milhões por aquela obra para o PP. Eu
era responsável por essa parte. A outra parte, eu não era responsável”.
Segundo Youssef, os 2% do PT eram negociados diretamente por João
Vaccari Neto, o tesoureiro do partido, por intermédio de Renato Duque,
então diretor de Serviços, indicado para o cargo, segundo Paulo Roberto,
por José Dirceu. Nestor Cerveró, o principal articulador da compra da
refinaria de Pasadena, era o homem do PMDB na empresa.
E os nomes dos políticos?
A Justiça Federal que apura as lambanças
da dupla não pode investigar os políticos que têm foro especial por
prerrogativa de função. Isso ficará a cargo do STJ ou do STF, a depender
do cargo. Por isso seus respectivos nomes não podem ser citados nos
depoimentos divulgados. Mas Paulo Roberto não deixa dúvida: “Na minha
agenda, que foi apreendida em minha residência, tem uma tabela que foi
detalhada junto ao MP, e essa tabela revela valores de agentes políticos
de vários partidos que foram relativos à eleição de 2010”. Reportagem
da revista VEJA informou, por exemplo, que Antônio Palocci, um dos
coordenadores da campanha de Dilma naquela ano, procurou Paulo Roberto e
lhe pediu R$ 2 milhões da cota que cabia ao PP.
É isso aí.
Todos os acusados negam qualquer envolvimento com o esquema. O Planalto
não quis se manifestar. Lula também se negou a falar com a imprensa.
Preferiu vociferar contra a investigação numa plenária do PT, assunto
para outro post.
Assim age
aquela gente que se orgulha em palanques de ter mudado o Brasil. Lembro:
a Petrobras é apenas uma das estatais. E está mais submetida a
controles porque é uma empresa aberta, com ações na Bolsa. Imaginem o
que se passa em empresas às quais não se presta muita atenção. É a lama.
É a lama. É a lama.
Por Reinaldo AzevedoFonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo
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