Vejam estas duas fotos, que me foram enviadas por amigos.
É mesmo do balacobaco! Admar Gonzaga, ministro do TSE, advogado da campanha de Dilma Rousseff em 2010, concedeu direito de resposta ao PT na VEJA.com. A revista emitiu, em área distinta, como pede a lei, uma nota a respeito da decisão. Sim, decisão judicial tem de ser cumprida. Mas só nas ditaduras ela não pode ser debatida. E é claro que vou debater. Até porque o texto enviado pelo PT a título de “direito de resposta” contém uma mentira flagrante. Então ficamos assim: uma revista é punida por publicar a verdade, a saber: Alberto Youssef afirmou em depoimento à PF que Dilma Rousseff e Lula sabiam das lambanças na Petrobras. É a verdade! O doleiro disse isso. Se a dupla sabia ou não, eis matéria que tem de ser investigada. O PT, no entanto, recorreu ao TSE para que a VEJA fosse impedida de fazer publicidade de sua capa — praxe em todas as edições — e para que publicasse o tal direito de resposta.
O texto do PT diz repudiar setores que “tentam influenciar o processo eleitoral por meio de denúncias vazias, que não encontram qualquer respaldo na realidade, em desfavor do PT e de sua candidata.” Uma ova! Se Youssef está mentindo, ele arcará com as consequências. A revista só publicou a verdade: o que ele afirmou em seu depoimento. O texto do partido diz ainda que “o próprio advogado do investigado, Antônio Figueiredo Basto, rechaça a veracidade desse relato.” Mentira! VEJA o entrevistou. Ele apenas se negou a confirmar o conteúdo da delação de seu cliente porque a investigação está sob sigilo, conforme deixou claro em à entrevista à VEJA.com.
A decisão de Admar Gonzaga é especialmente grave porque tomada um dia depois de vândalos disfarçados de militantes políticos terem promovido uma arruaça em frente à editora Abril, ameaçando invadi-la, ato que foi rechaçado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER), a Associação Nacional de Jornais (ANJ), Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraj). Até quando escrevo, desconheço que sindicatos de jornalistas ou a Fenaj (Federação Nacional de Jornalistas) tenham se manifestado. Em casos assim, quem cala consente — ou estimula.
Mas isso ainda não é o mais insólito. Vejam a manchete de ontem da Folha:
Também o Estadão trazia apuração reafirmando que o doleiro implicara Dilma e Lula no curso do processo de delação premiada.
Curiosamente, o PT não recorreu ao TSE contra a Folha e contra o Estadão, mas o fez contra a VEJA. Nada disso impressionou o ministro Admar Gonzaga, segundo quem, então, entende-se agora, um veículo de comunicação está livre para publicar o que apura desde que isso não fira a sensibilidade de um partido que disputa o poder. Trata-se de uma leitura realmente sui generis da Constituição, que era certamente compreensível naquele advogado que trabalhava para o PT, mas absurda, acho eu, num ministro de tribunal superior.
Em que as informações publicadas por VEJA diferem daquelas publicadas pela Folha e mesmo pelo Estadão — que evidencia um Lula participando de forma ainda mais ativa da tramoia? Lula, Dilma e o PT, que manifestaram a intenção de processar a VEJA, farão o mesmo com os outros veículos ou se trata mesmo de perseguição?
Em duas horas, Admar Gonzaga analisou o pedido da coligação que apoia Dilma para conceder o direito de resposta e deferiu o pedido, redigindo um despacho de impressionantes nove laudas — 13 minutos por página. Ele realmente é rapidinho.
Querem saber de uma coisa? Precisa chegar ao fim o Brasil que pune quem publica uma verdade e premia, por decisão judicial, quem conta uma mentira. Quem sabe seja hoje — antes que as cortes superiores brasileiras se transformem em tribunais de perfil bolivariano.
Quanto à decisão do ministro de proibir a VEJA de fazer publicidade de sua edição, respondo com as imagens que se veem lá no alto. Parece que Admar Gonzaga anda um tanto esquecido do que seja uma sociedade ainda livre e indignada. A censura teve um efeito contrário ao pretendido. Aí é que a capa ganhou as ruas, como um estandarte da educação cívica. Uma das fotos foi feita na Avenida Paulista. A outra retrata o Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera, tomado pela indignação, mas não só. Bem lá no alto, observem, brilha a capa de VEJA, como um “pendão da esperança”. A publicidade de maior peso de uma revista, senhor ministro, é a confiança que nela depositam os leitores e, nesse particular, os eleitores.
A censura saiu pela culatra.
Por Reinaldo Azevedo
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