sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Integrantes do MST são alvo de operação policial em três estados

Policiais redem integrantes da Escola Nacional Florestan
Fernandes, em Guararema- Divulgação/ MST
Polícia diz que ação envolve acusados de fazer parte de organização criminosa.

POR JOÃO CARLOS SILVA 04/11/2016
SÃO PAULO —Em meio a uma operação policial que terminou com a prisão de oito sem terra, nesta sexta-feira, a ação de policiais civis na Escola Florestan Fernandes, mantida pelo MST em Guararema, interior de São Paulo, provocou uma guerra de versões sobre o episódio. Com a justificativa de que cumpria mandado de prisão contra uma integrante do movimento, os policiais invadiram a escola atirando, segundo a direção do movimento, que classificou a ação como resultado de uma “perseguição histórica”.

Ao mesmo tempo em que prendia o grupo de sem terra no Paraná, sob acusação de integrar uma organização criminosa, os policiais chegaram a Guararema ontem de manhã para capturar Margareth de Souza, que não foi encontrada. Neste momento, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, cerca de duzentas pessoas tentaram desarmar os agentes e quatro deles ficaram feridos.

O MST, no entanto, apresentou outra versão. Informou que os policiais chegaram por volta das 9h25, pularam o portão da escola e a janela da recepção e entraram atirando em direção às pessoas que se encontravam na escola.

Além da ação, o tipo de munição usada pela polícia também reforçou a polêmica. O MST disse que a polícia atirou com bala comum contra os sem terra. A Secretaria de Segurança não se pronunciou sobre o tipo de arma usado.

Nas redes sociais, o músico José Paes Lira, o Lirinha, aparece fazendo um depoimento de dentro da escola. Ele estava participando de um seminário sobre cultura popular e classificou a ação da polícia como “truculenta”. A polícia reforçou que a violência teria partido das pessoas que estavam na escola.

OPERAÇÃO CASTRA

A operação, batizada de “Castra” (acampamento, em latim), também contou com buscas no estado de Mato Grosso do Sul, e foi um desdobramento de uma investigação em que a polícia acusa integrantes do MST de crimes de furto, roubo, invasão de propriedade, incêndio criminoso, cárcere privado e porte ilegal de arma de fogo, entre outras acusações.

A operação contou com a participação de pelo menos 70 policiais. Eles cumpriram 14 mandados de prisão preventiva, 10 de busca e apreensão e dois de condução coercitiva. Entre os presos está o vereador Claudelei Torrente de Lima (PT), eleito nas últimas eleições em Quedas do Iguaçu (PR). Há sete integrantes do MST foragidos, segundo a polícia.

“A operação da Polícia Civil não tem como alvo o MST, mas sim alguns integrantes do movimento suspeitos de cometer crimes”, disse o delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Júlio Cezar dos Reis, em nota divulgada pela Secretaria de Segurança Pública.

De acordo com a polícia do Paraná, na ação foram feitos dois disparos de advertência, para o alto. Segundo a polícia de São Paulo, o mandado de prisão contra Margareth de Souza garantia a entrada dos policiais na escola. “O MST repudia a ação da polícia de São Paulo e exige que o governo e as instituições competentes tomem as medidas cabíveis nesse processo. Somos um movimento que luta pela democratização do acesso à terra no país e a ação descabida da polícia fere direitos constitucionais e democráticos”, diz o MST.

“Se alguém tinha dúvidas de que o Brasil vive um estado de exceção, um estado policialesco, a invasão da escola Florestan Fernandes pela polícia é uma demonstração covarde de truculência típica de regime de exceção”, disse o ator Wagner Moura em outro vídeo sobre o caso divulgado na internet.

DENÚNCIA APÓS INVASÃO

As acusações contra os integrantes do MST, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Paraná, surgiram após a invasão de uma fazenda na cidade de Quedas do Iguaçu, em março deste ano.

De acordo com a Polícia Civil, as investigações apontaram que empregados da propriedade foram mantidos em cárcere privado e sob mira de armas. Após a invasão, 1.300 cabeças de gado teriam desaparecido, causando um prejuízo de R$ 5 milhões. Parte do gado teria sido vendida por integrantes do MST, dizem os delegados que investigaram o caso.

“O grupo apontado usa da força para subjugar os integrantes do Movimento Sem Terra, os quais, se não cumprirem com as regras impostas, são expulsos do local e, de consequência, do sonho de conquistarem a terra”, diz a juíza Paula Chedid Magalhães na decisão que decretou a prisão preventiva de integrantes do MST.

O trecho da decisão foi divulgado pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná.
Polícia Civil deflagra operação que investiga atuação do MST em três estados - Divulgação SESP PR

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