sexta-feira, 11 de março de 2016

Notícia sobre pedido de prisão de Lula causa euforia em Portugal e temor em alguns políticos locais

Por Redação Ucho.Info - 11 de Março de 2016
Apresentado pelo Ministério Público de São Paulo à Justiça, o pedido de prisão preventiva de Lula repercutiu na imprensa internacional com impressionante rapidez. Muitos brasileiros ainda não sabiam do fato, mas do outro lado do Atlântico os portugueses comentavam o assunto como rastilho de pólvora.

Lula, visto com muita desconfiança na terra de Camões e Fernando Pessoa, é alvo de investigações envolvendo o ex-primeiro ministro português José Sócrates de Sousa, preso na Operação Marquês, mas agora em liberdade, obviamente vigiada. Em 22 de julho de 2015, o jornal português Correio da Manhã publicou matéria que não apenas pode elucidar um escândalo transnacional, mas que mostra os elos entre as operações Marquês e Lava-Jato.

A reportagem do diário lisboeta destacou que o veto do então primeiro-ministro José Sócrates à venda da participação da Portugal Telecom na Vivo à espanhola Telefônica inflacionou o negócio em aproximadamente em 1 bilhão de euros. Ou seja, dinheiro aos bolhões em qualquer parte do universo. O CM ressaltou à época, com muita propriedade, que a intervenção de Sócrates “ditou, em troca, a entrada da Portugal Telecom na brasileira Oi”.

As autoridades portuguesas suspeitam que a manobra espúria foi combinada com antecedência e requintes mafiosos entre Lula e José Sócrates, como forma de garantir milionárias propinas às autoridades de ambos os países. Se os investigadores portugueses conheciam à época da reportagem o valor da “comissão” não se sabe, mas a força-tarefa da Lava-Jato estimou em cerca de 200 milhões de euros, algo como R$ 1 bilhão.

As autoridades de Portugal anunciaram que fariam uma devassa nas contas bancárias de Carlos Santos Silva, o “testa de ferro” de José Sócrates, com o objetivo de apurar o montante que foi parar no bolso do então primeiro-ministro.

O ponto de conexão entre as operações Marquês e Lava-Jato é o cartel de empreiteiras que agiu criminosamente, ao longo de uma década, na Petrobras. Um dos principais delatores do Petrolão, o maior escândalo de corrupção da História, o empreiteiro Ricardo Pessoa (dono da UTC) detalhou o funcionamento do esquema de desvio de dinheiro da petroleira nacional, do qual participaram a Andrade Gutierrez e a Odebrecht. Eis o calcanhar de Aquiles que une o Brasil a Portugal. Negócio suspeito

A Andrade Gutierrez é acionista da companhia telefônica Oi, que se fundiu com a Portugal Telecom. A Oi, nos tempos em que funcionava sob o nome Telemar, aportou R$ 5 milhões em uma empresa de jogos eletrônicos de Fábio Luís Lula da Silva, filho mais velho de Lula e que repentinamente trocou o anonimato de monitor de zoológico pelo estrelado de empresário bem sucedido. Quando isso aconteceu, Lula era presidente e por dever de ofício deveria ter ordenado veto imediato ao negócio. Ao contrário, calou-se para, em seguida, usar o costumeiro discurso inflamado para incensar a tese burra de que no Brasil o filho de um operário não pode ser bem sucedido.

Então presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo foi preso pela primeira vez na Lava-Jato em 19 de junho de 2015, sendo que em 10 de fevereiro deste ano voltou para a prisão. No dia seguinte, 11 de fevereiro, Azevedo conseguiu o direito de permanecer em prisão domiciliar, com direito a monitoramento por tornozeleira eletrônica.

Com sede em Minas Gerais, a Andrade Gutierrez, que há dias entrou com pedido de recuperação judicial, tinha Otávio Azevedo como comandante das operações da Oi em Portugal, que ensaiou fusão com a Portugal Telecom (PT), negócio geraria a CorpCo. Azevedo foi um dos representantes da Oi no Conselho de Administração da PT.

Otávio Azevedo deixou a Oi, até então um dos principais negócios da Andrade Gutierrez, após tomar conhecimento de uma dívida de 897 milhões de euros da Rioforte, braço não financeiro do Grupo Espírito Santo, junto à empresa. Azevedo sempre negou que soubesse da possibilidade de calote por parte do grupo português.

A saída de Otávio Azevedo da PT SGPS deveria ser entendida pelos artífices da confusão como claro sinal de que a Oi desconhecia a aplicação na Rioforte. Pelo menos era esse o objetivo da Oi, que usou tal argumento para forçar a renegociação da fusão entre a PT SGPS e a Oi, reduzindo a participação dos portugueses na futura empresa. Não se conseguiu provar que a Oi desconhecia a aplicação bilionária na Rioforte, mas a operadora brasileira conseguiu levar adiante a sua posição.

Com o controle da PT Portugal nas mãos, a Oi não demorou a colocar a empresa lusa à venda. Atualmente, a PT Portugal é controlada pelo grupo francês Altice, com sede no paraíso fiscal de Luxemburgo. A PT SGPS, rebatizada como Pharol SGPS, é a maior acionista da OI, que por sua vez instalou uma antena de celular a pouco mais de cem metros de um sítio em Atibaia, usado frequentemente por Lula – ele nega ser dono do imóvel. O sítio foi reformado por empreiteiras investigadas na Lava-Jato, o que pode levar Lula para a cadeia.


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